A bem planejada Operação “Narcos”, deflagrada em Quixeramobim na manhã da última quinta-feira, 10, era aguardada há muito tempo pelos habitantes deste município, que carecia de uma ação mais ousada de enfrentamento ao tráfico de drogas. No entanto, mesmo que se considere a magnitude da operação, não se pode pensar que o problema do tráfico foi resolvido. A eficácia da “Narcos” será garantida pelo prosseguimento das investigações e pela condenação dos envolvidos.
“Narcos” é uma referência à homônima série de TV norte-americana que narra os esforços dos Estados Unidos e da Colômbia para combater o traficante Pablo Escobar e o Cartel de Medellín, uma das organizações criminosas mais ricas da história. Em Quixeramobim, a megaoperação da Polícia Civil mirou o alto escalão do tráfico de drogas, prendendo o seu chefe e mais nove suspeitos de associação para o tráfico, homicídios e roubos de veículos, todos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Apesar disso, provavelmente, outro criminoso já assumiu o controle do mercado de drogas ilícitas na região.
Os números que cercam a “Narcos” impressionam. A operação contou com a participação de 140 agentes de segurança, entre policiais civis e militares, bombeiros e peritos forenses. A Justiça expediu sete mandados de prisão e 37 de busca e apreensão. Nove armas, um simulacro e um rádio de comunicação semelhante ao utilizado pela Polícia foram apreendidos nas residências dos suspeitos. Em vistoria nas selas da cadeia municipal, os agentes encontraram 43 celulares, 21 trouxinhas de cocaína e duas pedras de crack.
De acordo com o secretário de Segurança e Defesa Social, André Costa, o principal objetivo da megaoperação era prender pessoas que se “travestem” de comerciantes, mas que tem no comércio ilegal de drogas sua principal fonte de lucro. Entre os presos estão alguns dos integrantes de uma das famílias mais ricas da cidade, que, segundo o delegado André Firmino, se valiam do parentesco com o chefe do tráfico na região para intimidar a população local.
Apesar da demora em se realizar uma operação bem planejada desta magnitude, a “Narcos” servirá como um “divisor de águas” na história da segurança do Sertão de Quixeramobim, e até mesmo do Estado do Ceará. Durante muito tempo, por causas desconhecidas, a Polícia concentrou suas ações apenas nos pequenos traficantes, enquanto os “barões” do comércio ilegal de entorpecentes, que estão assentados no topo da pirâmide social, não se sentiam sequer constrangidos pela Lei.
As megaoperações têm sido utilizadas no Ceará como parte de uma estratégia para reduzir o poder do tráfico no Estado. Somente no mês de Julho foram realizadas cinco grandes operações nas cidades de Iguatu, Senador Pompeu, Canindé, Cruz e Jijoca de Jericoacoara. Em cada uma destas, a combinação de planejamento, inteligência, investigação e integração entre as forças de segurança do Estado, resultou na prisão de pessoas envolvidas com o tráfico, bem como na apreensão de armas e drogas.
A população espera que as Polícias Civil e Militar desenvolvam uma ação permanente de combate ao tráfico na região. O que se viu na última quinta-feira foi apenas a primeira de muitas batalhas que ainda estão por vir. O planejamento e a integração entre as forças de segurança, o prosseguimento das investigações – realizada, em sua maioria, a partir de denúncias feitas pelos moradores do município –, as condenações dos criminosos e o aumento do efetivo policial, conduzirão à vitória nesta guerra.
Editorial do Repórter Ceará