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Editorial: O sertão e as queimadas

A fumaça cinza e o barulho do mato seco em chamas indicam que uma nova queimada está ocorrendo. Manhã de quarta-feira e o fogo se espalha às margens da CE-257, que dá acesso a Canindé. Por conta da baixa visibilidade, motoristas trafegam com dificuldade. Nessa época do ano, em que a temperatura sobe, a umidade do ar cai e os ventos se tornam mais intensos, é comum observar a mesma cena em diferentes partes do Ceará, principalmente nos Sertões de Quixeramobim.

Apesar de ser uma prática antiga, verificada tanto na zona urbana quanto na zona rural dos municípios brasileiros, e utilizada na maioria das vezes para a limpeza de campos e preparo de terrenos para o plantio, as queimadas geram grandes prejuízos ao meio ambiente, constituindo-se uma das principais causas do aumento do efeito estufa e do aquecimento global.

Diferentemente do que muitos agricultores pensam, queimar a vegetação como forma de limpar um terreno para plantio provoca a diminuição da fertilidade do solo tornando as lavouras menos produtivas. Isso ocorre porque, com o fogo, o solo perde nutrientes essenciais ao crescimento das plantas e acaba se degradando por estar exposto diretamente à ação das chuvas.

Outro problema é que, em parte considerável dos casos, as queimadas atingem as matas ciliares – que servem de proteção para os cursos de água – contribuindo para o aumento da ocorrência de secas, fenômeno climático comum no Nordeste brasileiro, e para a redução da umidade relativa do ar. A saúde do homem também é afetada. A fumaça decorrente dos incêndios provoca a elevação do número de casos de problemas respiratórios, como rinites e bronquites, que atingem principalmente crianças e idosos.

Ao espalharem as chamas, os ventos fortes, típicos dessa época do ano, aumentam as chances dos incêndios se tornarem ainda maiores, podendo atingir residências e comprometer a rede elétrica. Além disso, quando realizadas às margens de rodovias ou avenidas, as queimadas ampliam o risco de acidentes graves, já que a fumaça leva à diminuição da visibilidade dos condutores.

No mês setembro o número de queimadas atingiu um nível inédito na série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), iniciada em 1999. Em apenas 23 dias foram registradas 429 queimadas em todo território cearense, uma elevação de 17,5% em comparação com o mesmo período do ano passado.

Somente neste mês, o Repórter Ceará já produziu quatro matérias sobre as queimadas registradas em Quixeramobim e adjacências. Em uma delas, no interior do município, os moradores precisaram intervir para que o fogo não atingisse as residências. Mas, apesar da recorrência, é difícil identificar e punir os responsáveis, porque, em sua maioria, estes incêndios ocorrem em áreas em que não há vigilância.

Todavia, com planejamento, monitoramento ampliado, prevenção e fiscalização eficiente, será possível coibir esta prática primitiva tão danosa ao meio ambiente e à saúde do homem. Os cidadãos podem contribuir com as autoridades fiscalizadoras denunciando a ocorrência de queimadas, principalmente nas áreas mais isoladas. A aplicação de punições exemplares e o investimento em ações educacionais permitirão a construção de uma cultura que vise à preservação do meio ambiente através da não realização de queimadas.

Editorial do Repórter Ceará

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