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Editorial: O futuro de Aécio

BRASÍLIA DF BSB 04/07/2017 POLÍTICA / PRONUNCIAMENTO / AECIO NEVES - Pronunciamento do senador Aecio Neves (PSDB-MG) na tribuna do Senado nesta terça-feira (3), após a retomada do seu mandato. Durante o pronunciamento, o senador se defende das acusacoes que pesam contra ele. FOTO DIDA SAMPAIO/ESTADAO

As citações feitas pelos delatores da Odebrecht, a proximidade com o presidente Michel Temer, o envolvimento no escândalo da JBS e o recente afastamento do mandato, foram fatores que contribuíram para desgastar a imagem do senador Aécio Neves diante dos seus eleitores e para alterar os planos do tucano para as eleições de 2018. Como estratégia de sobrevivência política, o senador mineiro poderá encurtar o voo no próximo ano e tentar uma vaga na Câmara dos deputados, mesmo que desconsidere essa possibilidade no momento.

Aécio começou sua carreira no meio político na década de 1980, logo após a morte do avô Tancredo Neves. Cumpriu quatro mandatos seguidos de deputado federal, esteve durante oito anos à frente do governo de Minas Gerais, foi eleito senador por aquele Estado e quase conquistou a presidência da República em 2015, quando recebeu mais de 52 milhões de votos, ao se apresentar como alternativa ao governo do Partido dos Trabalhadores (PT).

Mas este ano uma tempestade perfeita parece ter se formado sobre a cabeça do senador mineiro. Em março, delatores da construtora Odebrecht contaram aos investigadores da Operação Lava Jato que Aécio Neves recebeu aproximadamente R$ 70 milhões em propinas desde 2003. Ao todo, 9 inquéritos referentes ao senador já foram abertos no Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da Lava Jato.

Naquele mesmo mês, o tucano foi gravado pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista, dono do frigorífico JBS. Nos áudios revelados pelo jornal O Globo, Aécio propõe a Joesley, em tom de ironia, que o recebedor do dinheiro seja “um que a gente mate antes de fazer delação”. Os valores solicitados foram pagos em quatro parcelas de R$ 500 mil e uma das entregas foi filmada pela Polícia Federal (PF).

O escândalo levou o STF a afastar Aécio das atividades parlamentares e a impor ao senador medidas cautelares – dentre elas o seu recolhimento noturno. Três semanas depois, em uma decisão polêmica influenciada pelo presidente Michel Temer, o Senado derrubou, por 44 votos a 26, as medidas cautelares e devolveu o mandato ao tucano, que discursou no dia seguinte dizendo-se vítima de uma “ardilosa armação”.

Vítima ou não, o retorno de Aécio ao Senado não significou a reversão dos danos que os recentes episódios causaram à sua imagem, nem foi útil à reunificação do PSDB, divido, desde a divulgação dos áudios do empresário Joesley Batista, entre os que defendem a permanência do partido na base governista (aecistas) e os que pregam o rompimento da aliança com o governo (cabeças pretas), estes últimos liderados pelo senador Tasso Jereissati.

Aécio passou a ser visto dentro do PSDB como a expressão do “fisiologismo” a que se submeteu o partido. Não poucos são os que veem a figura do senador mineiro como fonte de contaminação das eleições do próximo ano e como obstáculo à reinvenção a que se propõe o PSDB. As convenções estaduais, realizadas no último fim de semana, deixaram isso muito claro. Em São Paulo, filiados ao partido expressaram esse sentimento ao ressoarem um estridente “Fora, Aécio!”. Em outros Estados, partidários discutiram o caso do senador.

Envolvido pela rede de arrasto da Operação Lava Jato, Aécio se encontra em uma situação política muito difícil, que é agravada pela relação cada vez mais próxima com o impopular presidente Temer. A sua condição jurídica e a onda anticorrupção que inundou o País nos últimos anos deve força-lo a reformular sua estratégia para 2018, abandonando os planos de reeleger-se senador e incluindo nela a possibilidade de uma candidatura a deputado federal.

Editorial do Repórter Ceará

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