Home Publicação Entenda “O Mecanismo”, série da Netflix sobre Operação Lava Jato, e veja...

Entenda “O Mecanismo”, série da Netflix sobre Operação Lava Jato, e veja o que é real e adaptado

O Mecanismo, série da Netflix sobre a Operação Lava Jato, está rendendo uma série de críticas contra e a favor da trama, principalmente pela visão de políticos brasileiros. Um dos trechos mais polêmicos é quando o personagem José Higino (Lula) profere a frase “estancar a sangria” que, na vida real, foi dita pelo senador Romero Jucá (MDB-PR). O momento foi criticado pelo ex-presidente Lula e simpatizantes do PT.

A série é descrita por seus criadores como uma “obra de ficção inspirada livremente em eventos reais”. Além disso, “personagens, situações e outros elementos foram adaptados para efeito dramático”, diz uma tela que é repetida ao começo de cada episódio.

Vale ressaltar que várias nomenclaturas foram alteradas. A primeira coluna traz os nomes na vida real e a segunda as nomeações na ficção:
Partido dos Trabalhadores (PT) / Partido Operário (PO)
Petrobras / Petrobrasil
Empreiteira Galvão Engenharia / Empreiteira Bueno Engenharia
Lula / José Higino
Dilma Rousseff / Janet Ruscov
Michel Temer / Samuel Thames
Delegada Erika Marena / Delegada Verena Cardoni
Alberto Youssef / Roberto Ibrahim
Carlos Habib Chater / Chebab
Nelma Kodama / Wilma Kitano
Márcio Thomas Bastos / Mário Garcez Brito (O Mago)
Delegado Gerson Machado / Policial Marcos Rufo
Polícia Federal / Polícia Federativa

Além disso, o Portal UOL realizou um levantamento e elencou o que é mentira e o verdade na série. Confira abaixo as principais pontuações:
1. Lula falou sobre “estancar a sangria”? Falso.
Na série dirigida por José Padilha, a frase é dita pelo personagem José Higino (que representa o ex-presidente Lula) ao “Mago”, inspirado em Márcio Thomaz Bastos. O diálogo fictício ocorre em 2014, antes das eleições presidenciais, contudo, na vida real, a frase foi dita pelo senador Romero Jucá ao ex-presidente da Transpetro e delator da Lava Jato, Sérgio Machado. A conversa foi gravada por Machado e entregue às autoridades como parte de seu acordo de delação. O período também é outro: o diálogo real ocorreu em março de 2015, já com Dilma Rousseff (PT) reeleita, e com alguns dos principais empreiteiros do país na cadeia.

2. A prisão de Youssef em 2014 aconteceu daquele jeito mesmo? Verdadeiro, mas…
Na série, o doleiro Roberto Ibrahim aproveita-se de um descuido do agente “China” (que representa o policial federal aposentado Newton Ishii, o “Japonês da Federal”) para pegar um jatinho no aeroporto de Congonhas (SP) e se mandar para Brasília.

O comando da PF no Paraná chega a interromper a operação, mas de repente a sorte dos protagonistas muda: Ibrahim (Youssef) reaparece no radar dos policiais, já na capital federal. O agente liga no hotel, e Ibrahim atende. Ele retorna a ligação e descobre que a chamada veio da PF – e deduz que seria preso.

Desconfiando da prisão iminente, o doleiro sobe até outro quarto do hotel e entrega uma mala de dinheiro a um comparsa que viajava com ele. “Vou ser preso amanhã. Faz o pagamento aí”, diz, com calma.

A cena é real – inclusive a ligação para a PF e a mala de dinheiro. A diferença é que Ishii não deixou Youssef escapar e o doleiro tampouco estava em Brasília no momento da prisão. Quando foi detido, Youssef estava no quarto nº 704 do Hotel Luzeiros, um dos mais requintados de São Luís (MA), com vista para o mar.

3. O posto de gasolina de Yousseff realmente existe? Verdadeiro.
Na série, o local é chamado de “Posto da Antena”. Na vida real, o estabelecimento funciona até hoje – trata-se do Posto da Torre, localizado no Setor Hoteleiro Sul, ao lado da Torre de TV, um dos cartões-postais de Brasília. O empreendimento foi alvo da primeira fase da Lava Jato.

4. Youssef circulava pelo comitê de campanha de Dilma Rousseff? Falso.
Logo no começo da série, o personagem Roberto Ibrahim (que representa o doleiro Alberto Youssef) aparece em uma cena dentro do comitê de campanha do “Partido Operário” – na vida real, o comitê de Dilma Rousseff (PT). “Você quer quanto? R$ 500 (mil) resolve, para esta semana?”, pergunta o personagem a uma integrante do staff fictício. “R$ 600 (mil), meu amor. Para agora”, responde ela.

Na vida real, esta cena jamais poderia ter acontecido: durante a campanha eleitoral de 2014, Alberto Youssef estava preso em Curitiba, no Paraná (ele foi detido na 1ª fase da Lava Jato, em 17 de março de 2014, e ficou na cadeia até 17 de novembro de 2016).

5. O policial Marco Rufo existiu realmente e fuçou extratos no lixo? Não foi bem assim…
Assim como outras figuras da série, o policial Marco Rufo é baseado em uma pessoa real – neste caso, um ex-delegado da PF, hoje aposentado, chamado Gerson Machado. Assim como Rufo, Machado é de Londrina (PR). Esta é também a cidade natal de Alberto Youssef (na série, Roberto Ibrahim).

Assim como Rufo – o da ficção – Machado investigou Youssef, e disse ter sido acusado de “perseguição” pelo doleiro. Na vida real, Machado abriu um inquérito sobre o caso em 2008, anos antes da Lava Jato começar. Ao jornal O Estado de S. Paulo, Machado disse em 2016 que foi afastado das investigações e depois “foi aposentado” precocemente, aos 49 anos de idade, em 2013. O afastamento o deixou deprimido.

Na série, porém, Marco Rufo conhece Ibrahim desde a infância; está na cola do doleiro desde o caso Banestado (na década de 1990), e sofre de transtorno bipolar. Além disso, vasculha o lixo do doleiro para tentar coletar provas e comete outros atos ilegais ao longo da série (como destruir a marretadas uma motocicleta de luxo dos investigados).

Na vida real, os investigadores da Lava Jato usam uma série de softwares de análise de dados, inclusive para fazer o cruzamento de informações financeiras obtidas com ordem judicial junto ao sistema financeiro nacional. Nunca coletaram nada no lixo dos investigados, até onde se sabe.

6. Youssef realmente foi preso e fez delação uma década antes da Lava Jato? Verdadeiro, mas…
Youssef fechou seu primeiro acordo de delação premiada em 2004 – o acordo foi homologado pelo juiz Sérgio Moro. Em 2014, na segunda prisão do doleiro, o mesmo juiz invalidou o acordo de 2004. A história é contada de forma resumida pela série de José Padilha.

Repórter Ceará com Portal UOL

não houve comentários

Deixe seu comentário:

Please enter your comment!
Please enter your name here

Sair da versão mobile