A mineradora Globest Participações Ltda deixou rastros de prejuízos ambientais após nove anos de instalação da mina para exploração de minério de ferro em Quiterianópolis, no Sertão dos Inhamuns. Ao todo, são pelo menos 14 autuações, sendo 12 feitas pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e duas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Conforme os documentos, as comunidades da serra do Besouro, do Badarro, e parte do rio Poti estão sendo atingidas por contaminação ainda não mensurada. Além do Ibama e da Semace, o Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM) e o Escritório Frei Tito de Direitos Humanos também fizeram denúncias.
O diagnóstico sobre o volume de rejeitos que a Globest deixou vazar para o Poti será feito por técnicos da Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial (Nutec), da Universidade Federal do Ceará (UFC), como também, será analisado quanto o açude Flor do Campo, principal fonte de abastecimento de Novo Oriente e outros municípios, teria sido atingido.
Conforme o Ibama, o registro mais recente de infração da Globest é de fevereiro deste ano. A mineradora foi autuada por poluir o rio Poti com rejeitos de minério de ferro. Com as fortes chuvas de 2019, o material escorreu para o curso d´água, que nasce em Quiterianópolis, atravessa o Ceará, corta o Piauí e deságua no oceano Atlântico pelo rio Parnaíba.
Em fevereiro do ano passado, a mineradora havia sido fiscalizada pelo Ibama, sendo multada em R$ 50 mil por “inadequação dos equipamentos para a contenção de rejeito” e foi proibida de operar. Contudo, a mesma já estava com atividades suspensas, em razão de uma interdição da Semace.
De acordo com o superintendente do Ibama, Gabriel Sobreira Lopes, existem pelo menos duas pilhas de rejeitos de minério de ferro que estão contaminando. O primeiro monte, com sete ou oito metros de altura, se encontra antes de uma estrada de terra. A segunda, está após a estrada.
De 2012 a 2017, o Ceará enfrentou seis anos seguidos de seca. A mineradora começou a operar em 2010/2011. Entre o ano passado e este ano choveu acima da média em Quiterianópolis.
Além da multa e da proibição de operação, o Ibama aprovou um relatório determinando o tratamento dos efluentes e a exigência de análise laboratorial para se medir o impacto no ecossistema em torno de um rio que atende o consumo humano, animal, pesca e outros usos.
Após uma reunião de emergência na Assembleia Legislativa (AL), convocada pelos deputados estaduais Renato Roseno (PSol) e Acrísio Sena (PT), ocorrida no último 12 de março, ficou acertado que os estudos sobre o crime ambiental seriam bancados pela Globest.
Além das autuações, a mineradora responde a três processos criminais ambientais em Quiterianópolis e um em Sobral. Um deles, por usurpação de águas. Uma nova reunião na AL foi agendada para o dia 16 deste mês. Será apresentado o laudo do Nutec.
O Poti é parte da geografia do Ceará e do Piauí. Da nascente, em Quiterianópolis, à foz, na Parnaíba, são 538 km de extensão. Sua bacia tem 52.370 km², sendo 13.573 km² no sertão cearense e 38.797 km² no semiárido piauiense. O rio está no mapa de 24 municípios dos dois estados.
Repórter Ceará com informações do O POVO