O petróleo cru que atinge as praias do litoral nordestino desde o início de setembro chegaram pela primeira vez a uma região de mangue em Beberibe, no Ceará. O ecossistema ocupa uma faixa de cerca de 20 mil hectares e é considerado um berçário de espécies marinhas e importante para a cadeia produtiva da pesca nos municípios cearenses.
O piche foi registrado por pescadores às margens da foz do Rio Piranji, em Parajuru, no município de Beberibe, no litoral cearense.
“Estamos com medo de entrar no braço do rio, que atende um projeto de criação de camarão com mais de 63 famílias, fora os prejuízos ambientais, que serão enormes para todos, pescadores, marisqueiras e criadores”, lamenta Edvan Dantas, presidente da Associação Comunitária dos Produtores de Parajuru.
Rafaela Maia, bióloga que coordena o Laboratório Ecomangue, teme que óleo “possa causar fuga e morte de peixes, aves, caranguejos e ostras”. “O óleo pode se acumular nas raízes, sufocando a flora, podendo levar a grande mortandade e comprometer todo o equilíbrio ecossistêmico”, explica.
A mancha de óleo vem avançando na área litoral cearense de maneira gradativa. Segundo o diretor de Controle e Proteção Ambiental da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), Lincoln Davi, qualquer dos ecossistemas localizados na área litorânea podem ser atingidos pelo petróleo cru. “A poluição é muito dinâmica e a qualquer momento pode chegar”, afirma.
Pelo menos 27 praias do Ceará e mais de 200 localidades dos nove estados do Nordeste foram afetadas pela poluição.
Com o intuito de amenizar os impactos, o governador Camilo Santana e integrantes do grupo de trabalho que acompanham as ocorrências de óleo nas praias cearenses devem se reunir nesta terça-feira, 29, para operacionalizar um plano de contenção da foz dos rios Curu e Jaguaribe. A água dos dois estuários é usada na irrigação e consumo humano e animal, motivo que agravaria o desastre ambiental caso o óleo atinja as fontes de água doce.
Importância do Mangue
A doutora em Biologia Marinha, Rafaela Maia, explica que os mangues cumprem um papel ecológico e econômico importante.
“São áreas que promovem a sustentação da cadeia trófica [de alimentação], a proteção da linha de costa e podem funcionar como filtro biológico. São áreas de berçário e abrigo para muitas espécies, inclusive aquelas de interesse econômico, além de serem importantes no sequestro de carbono e manutenção do clima global”, pontua.
A ambientalista Ana Paula Lima, que coordenadora projetos da Fundação Brasil Cidadão em Icapuí, um dos locais atingidos com a mancha de óleo, relata que a atuação do ecossistema no equilíbrio global é imprescindível: “regula o clima e evita erosão”.
“Nós estamos muito apreensivos com a possibilidade do óleo adentrar no estuário da Área de Proteção Ambiental da Barra Grande, onde está localizado o manguezal em Icapuí”, explica.
A APA abrange cerca de cinco comunidades e seu principal ecossistema é o manguezal. A região é fundamental para sobrevivência de espécies que vêm de fora do Brasil. “O habitat do manguezal acolhe aves migratórias, sobretudo que vêm dos EUA e do Canadá. Elas migram e se refugiam no manguezal”, explica a ambientalista. Caso o óleo chegue à área do mangue, “as espécies seriam prejudicadas”, lamenta.
Repórter Ceará com informações do G1-CE