Com o título Gestão da Secretaria de Cultura de Fortaleza: sobre meu “espanto”, confira o artigo da gestora cultural, Selma Barbosa:
Sobre meu “espanto” ao ver em nossa política cultural a nomeação de dois parlamentares para os cargos mais importantes de gestão da Secretaria de Cultura de Fortaleza, eu reflito com uma pergunta: por que a gestão cultural pública normalmente e, especialmente, em cargos relevantes como o de Secretário de Cultura, Secretário Executivo ou Diretor de Cultura, raras vezes recebe nomeações técnicas, sendo comumente ocupados por parlamentares, políticos profissionais ou ainda por artistas de renome?
Com todo o respeito às carreiras de político parlamentar ou artista, e nada contra as pessoas nomeadas para exercer a gestão da política de cultura em Fortaleza, fazer gestão cultural requer conhecimentos que vão bem mais além da boa vontade, de algum conhecimento na área, da capacidade de execução ou ainda do talento artístico.
Causa espanto ver que temos em nossa cidade tantos gestores extremamente habilitados para uma função maior da Secultfor, mas o Prefeito não observou e escolheu não um, mas dois parlamentares para os cargos maiores. Até membros da antiga equipe da Secultfor tinham alta qualificação para estes cargos, mas, mais uma vez, a política cultural municipal ficará a cargo de pessoas que não são profissionais da área.
Para ser um gestor cultural é necessário conhecer o amplo campo cultural, que não é simplório, mas cheio de complexidades específicas que fazem de Fortaleza um caldeirão de culturas. É necessário, sim, conhecer o campo político legislativo, as leis que regem a cultura, desde as leis de direitos autorais àquelas que propõem incentivos fiscais. É necessário perceber que não se faz gestão da cultura no singular, mas no plural, como sempre nos lembra Fabiano dos Santos Piúba, e por isso é preciso manter o diálogo e a mente sempre aberta à todo o ambiente cultural, porque esse campo é dinâmico e vive em constante mudança. Além disso, é uma das raríssimas áreas em que o poder público necessita da sociedade civil para poder prestar o serviço de promoção da cultura local. Isso tudo além, claro, dos conhecimentos específicos da gestão como administração, planejamento, economia e tantos outros que tornam a profissão ainda mais complexa.
Com tanta especialidade e tanta necessidade de conhecimento específicos, volto a perguntar “Por que dois parlamentares nos cargos principais da gestão da política cultural em Fortaleza, Prefeito Sarto?”.
A esta pergunta, gostaria de respostas. Gostaria de saber qual a importância da cultura para esta gestão. Gostaria de saber se a equipe de transição e de indicação de cargos (se é que existe uma equipe para isto) sabe que Fortaleza é uma das capitais mais estratégicas no campo cultural e que possui grandes e competentes nomes para estas funções tão importantes.
Não, não consigo deixar de me espantar com dois parlamentares ocupando os principais cargos da política cultural local, com tantos bons gestores culturais à disposição. A vida já anda assustando demais para mais um espanto.
Mas quem sou eu para cobrar assim? Para a nova geração, com que ainda não tive o prazer de conviver, me apresento, sou profissional e professora de gestão cultural há mais de 30 anos, com especialização em Gestão de Produtos e Serviços Culturais pela Uece e Mestrado em Gestão Cultural pela Universidade de Barcelona. Coordenei o programa de Formação em Gestão Cultural do Instituto Dragão do Mar no final dos anos 1990. Fui presidente da Federação Estadual de Teatro Amador por 2 vezes. Coordenei o programa de Teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Coordenei os Projetos Cenas em Celas Abertas e Escola Ensina em Cena, por todo o Ceará. Coordenei e ministrei mais de 20 cursos de gestão cultural em cidades cearenses para implantação dos Núcleos de Arte e Cultura do Proares I.
Coordenei o Programa Cultural da Petrobrás Lubnor por 5 anos. Coordenei a implantação do Programa Secult Itinerante e o Programa Secult nos Bairros. Coordenei o Programa Microprojetos Mais Cultura do Ministério da Cultura. Coordenei o Programa de Formação para Competências Criativas do MInC. Fui consultora da Unesco para o Ministério da Cultura por duas vezes, responsável pelo embasamento conceitual e estratégico do Plano Nacional de Artesanato e pela pesquisa sobre Pólos Criativos. Fui supervisora de conteúdo e professora do Curso de Gestores Culturais da UNB, além de professora de gestão cultural para diversas universidades brasileiras, entre outras instituições. E, recentemente, tive a honra de dirigir nosso amado Theatro José de Alencar. Assim, creio que posso perguntar alguma coisa ao prefeito. E, sinceramente, espero um dia ser respondida.
Selma Santiago
Gestora cultural
Espero, ansiosa, a resposta do Exmo. Sr. Prefeito, à sua Indagação, Selma Santiago.
Você, não só tem Currículo para tal questionamento, Você tem Cacife!
Aguardemos! … Mas não muito!
Selma Santiago, aguardo, anciosa, a Resposta do Exmo. Sr. Prefeito à sua Indagação — que é, ao mesmo tempo, uma importante Análise e uma excelente Reflexão!
Você, não tem somente um Currículo Ilibado, Você tem Cacife!
Aguardemos, para breve, O Pronunciamento de sua Excia, Prefeito Sarto!
E que não tarde!