A trilha sonora da novela Roque Santeiro incluiu aquela que se tornaria a “minha música” devido à frase “estou de volta pro meu aconchego trazendo na mala bastante saudade…”. A nostalgia acompanha todos que saem do seu torrão natal, como expressou Humberto Teixeira “Lá no meu pé serra deixei ficar meu coração…”
E quando a migração ocorre na infância, dói romper com aquele pequeno mundo que nos cerca. Foi isso que se deu comigo e as férias escolares eram a volta temporária para a Cidade pequenina. O grande Ataulfo Alves assim cantava
“Eu daria tudo que tivesse
Pra voltar aos dias de criança
Eu não sei pra que que a gente cresce
Se não sai da gente essa lembrança …”
A volta definitiva ocorreu em dezembro de 2004. O impacto do primeiro momento foi de alegria, substituído depois frustração de não reencontrar aquelas pessoas do nosso bem querer. Muitos familiares e amigos partiram cedo demais. As brincadeiras, os pontos de encontro e lazer estavam diferentes. A Paisagem não era mais tão bela. E outra vez uma canção ganhou muito significado. Geraldo Figueiredo fez a versão da letra de Curly Putman e foi gravada por Agnaldo Timóteo
“Se algum dia
À minha terra eu voltar
Quero encontrar
As mesmas coisas que deixei
Quando o trem parar na estação
Eu sentirei no coração
A alegria de chegar
De rever a terra em que nasci
E correr como em criança
Nos verdes campos do lugar…”
Não encontrei muitas coisas que deixara. Nem mesmo cheguei pela Estação, pois tiraram os trilhos e não existe mais o Trem de passageiros. A Praça Kalil Skeff encolheu para ser ocupada por comércio e o belo casario da Bougeval Leão desapareceu. Chegamos pela rodovia e senti falta do Açude da Comissão. Tristeza maior foi encontrar o mais antigo Mercado em total descaracterização em sua fachada original, como se a Gestão Municipal não exercesse seu papel de “cuidadora” dos próprios públicos e cada permissionária faz o que bem lhe aprouver. Esquecem que este é um EQUIPAMENTO PÚBLICO – o dono é a municipalidade, mas esta não cuida devidamente dos bens da Cidade.
Seguindo pela Mons. Salviano Pinto senti falta da Casa da Dª Celsa e de parte do Casarão de Dª Rosita e José Felício. Ao chegar na Pç. Comendador Garcia adentrei à nossa Matriz; para minha tristeza, neste Templo bicentenário as colunas foram revestidas por ladrilhos de cerâmica e um piso em granito substituiu o belo mosaico original, descaracterizando de forma grosseira esse símbolo da fundação de nosso Município. Nesta Praça restaram a Casa de Câmara e Cadeia e a Casa Paroquial. Os demais imóveis, inclusive a Casa da Família dos ilustres Ismael Pordeus e Andrade Furtado ficaram apenas nas fotografias. Felizmente, o prédio dos Correios que fora descaracterizado, se encontra restaurado graças à iniciativa do arquiteto José Henrique Braga, servidor da Superintendência Regional da ECT.
Os logradouros públicos perderam sua arborização e outros estão INDEVIDAMENTE ocupados por um comércio desorganizado que dificulta o deslocamento das pessoas. Deu saudade do Tamarineiro em frente a Casa de Dª Rita Pordeus. Por aqui não se pratica preservação e readaptação. Levam ao chão muitas referências da história local. As agressões ao ambiente natural nos roubaram os espelhos d’águas como o Riacho da Palha e o Rio Quixeramobim agoniza. O povo que só pensa em lucros deveria saber que Turismo também traz dinheiro e por aqui há muito potencial nos aspectos histórico, cultural, ecoturismo e esportes de aventura.
Assim o retorno traz também a frustração de sentir um vazio quanto ao respeito aos bens materiais e imateriais da cultura local e sentir que desapareceu o espírito coletivo que mobilizou e construiu a Capelinha no alto do Cruzeiro que foi destruída pelo vandalismo. Na paisagem do Boqueirão falta o belo conjunto das Casas dos Ingleses. Assim como Manuel Bandeira, um dia escreverei minhas “Saudades de Quixeramobim”.
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