A COVID, essa desgraçada, tirou de nós um de nossos melhores. Levou a arte, silenciou os tambores. Calou a voz e arrancou da gente, Carlinhos Perdigão.
Falar dele, sobre ele, da essência desse cara, e da dor de mais um adeus do flagelo sem final, é muito duro para quem viu, ouviu, e conviveu com ele.
O sofrimento de Daniele Andrade, sua companheira, é proporcional ao da “amante”, como ele chamava a bateria parceira de uma vida de amor e talento.
Carlinhos Perdigão era um virtuoso, e muito mais do que a técnica refinada que possuía, o que fazia a diferença era a paixão dele pelo rufar das peças e o sibilar de seus pratos que navegavam no ar.
E havia uma gentileza em seus modos, conduta e visão de mundo, que trocar ideias com ele, papear aqui e em todo lugar era um estado de graça.
Fui produtor musical de uma apresentação dele em 2006 no Centro Cultural do BNB, e do breve convívio nasceu uma amizade cordial.
O revisor de textos formado em gestão escolar na UECE, também foi professor, um sujeito cuja capacidade fazia dele o educador especial que ensinava música! Lecionava arte. E sons.
Perguntei a ele o que achava de Ringo Starr, uma vez depois de um papo sobre blues. “Qualquer um que ouça Beatles vai fazer algum movimento de corpo instintivo que levará à percussão, é a mais notável contribuição que um músico deu à música popular, por isso Ringo é único”, respondeu.
Sempre que brinco de ‘air drum’ penso nisso.
Meu filho, Claudinho foi aluno dele no curso de Comunicação Social da faculdade cearense.
A última pratada
Foram onze doloridos boletins nos quais Daniele se encarregou de revelar o passo a passo de seus últimos dias, da entubação ao silêncio.
Carlinhos Perdigão resistiu o quanto pôde. Era um dos nossos, daqueles que resistiam contra a treva.
E acreditava que os bons venceriam no final.
Dele guardarei gentilezas e sorrisos, a ventura de tê-lo visto em ação tocando blues, MPB, rock e jazz elevando as baquetas como batutas.
Uma grande vida se encerrou ao som do Led que ele amava. Subindo as escadarias para o céu.
“There’s a feeling I get when. I look to the west. And my spirit is crying for leaving In my thoughts I have seen rings of smoke through the trees. And the voices of those who stand looking”.
1, 2, 3, 4…até um dia Carlinhos…
Cláudio Teran
Jornalista