O ex-ministro da Saúde e general da ativa do Exército Brasileiro Eduardo Pazuello negociou, no início de março, a compra de doses da vacina sino-brasileira Coronavac com uma empresa intermediária, e não diretamente com o Instituto Butantan, produtor do imunizante. Fora da agenda, a negociação de Pazuello via atravessadora teria resultado uma compra no valor de US$ 30 dólares por dose (R$ 167,40). Isso é quase o triplo dos US$ 10 pagos pela pasta dois meses antes ao Butantan.
A informação foi apresentada pela Folha de S. Paulo. Na denúncia, há um vídeo no qual Pazuello se reúne com os representantes da World Brands, empresa sediada em Itajaí, Santa Catarina. O encontro ocorreu no gabinete do então ministro, em Brasília, e teria como fim tratar de uma proposta de R$ 4,65 bilhões para aquisição de 30 milhões de doses da Coronavac importadas da China.
No vídeo veiculado pela Folha representante da empresa fala que outras parcerias poderiam ocorrer. O governo, no entanto, não foi à frente com a negociação.
A ação do general-ministro contradiz diretamente a fala dele à CPI da Covid. Em 19 de maio Pazuello negou ter participado, pessoalmente, de negociações para compra de vacinas junto à empresas. “Eu sou o dirigente máximo, eu sou o decisor, eu não posso negociar com a empresa. Quem negocia com a empresa é o nível administrativo, não o ministro”, respondeu Pazuello ao senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI. “Se um ministro…jamais deve receber uma empresa, o senhor deveria saber disso.”
Parlamentares repercutiram a notícia. O vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (REDE-AP), disse que a ação da comissão está fazendo emergir os escândalos de corrupção do governo. “A CPI da Pandemia abriu a caixa de Pandora”, escreveu.
O líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), também indicou que a revelação tem teor grave. “A cada novo escândalo, a ineficiência do governo se prova intencional e premeditada”, escreveu em seu Twitter. José Guimarães (PT-CE) engrossou as críticas: “O vídeo comprova que ex-ministro mentiu na CPI da Covid. Militar disse aos senadores que não liderou negociações com a Pfizer porque um ministro não deveria negociar com uma empresa!”
Repórter Ceará – Congresso em Foco