Home Terezinha Oliveira “Aquele abraço” para Gilberto Gil: 80 anos da brasilidade

“Aquele abraço” para Gilberto Gil: 80 anos da brasilidade

“Um poeta desfralda a bandeira e a manhã tropical se inicia”. Em 26/06/1942, nasce em Salvador-BA um revolucionário que anos depois junta-se a três jovens conterrâneos e mostram o que é ser um “doce bárbaro”. Sua “sina” é ser “viramundo… Pulando pra não ser preso pelas cadeias da intrig… Mas ainda viro esse mundo em festa, trabalho e pão…”. Na sua infância viveu em Ituaçu, na bela região da Chapada Diamantina, e logo demonstrou interesse pela música. Era fascinado pelos sons da Banda de Música, das sanfonas e dos Cantadores e Violeiros. Indo morar em Salvador para continuar os estudos, também vai aprender a tocar acordeom e amplia os conhecimentos sobre vários ritmos. As composições que surgem denotam influências de sons regionais e seus versos trazem a temática social.

“… Quem tem dinheiro no mundo Quanto mais tem, quer ganhar
E a gente que não tem nada / Fica pior do que está
Seu moço, tenha vergonha / Acabe a descaração
Deixe o dinheiro do pobre / E roube outro ladrão…”
(Roda)

A carreira musical teve início como instrumentista da Banda “Os Desafinados” tocando sanfona e vibrafone em escolas e clubes de Salvador. Ao ouvir João Gilberto, trocou a sanfona pelo violão. Ainda jovem, escreve seus primeiros poemas com influências de Castro Alves, Gonçalves Dias, além do parnasiano Olavo Bilac.

Graduado pela Universidade da Bahia em Administração de Empresas, vai para São Paulo conciliando o trabalho no escritório e o interesse pela música. Além dos conterrâneos Caetano, Bethânia, Gal e Tom Zé, se aproxima de Capinan, Torquato Neto, Chico Buarque e outros. Em viagem à Recife recebe forte influência da cultura regional. Apresenta-se no “Fino da Bossa”, programa de Elis Regina, e mostra suas composições à “Pimentinha”. Alcança sucesso nas apresentações, deixa o emprego e vai para o Rio de Janeiro, onde participa de vários Festivais. No III Festival de Música Popular Brasileira, em 1967, fica em 2º lugar com “Domingo no Parque”, acompanhado pelas guitarras dos “Mutantes”. No ano de 1968, aflora o Tropicalismo, movimento liderado por Gilberto Gil e liberdade das expressões artísticas. Saindo da prisão, fica em confinamento até mudar-se para Londres, onde ficaram por dois anos. Gil e Caetano fazem apresentações na Inglaterra e outros países europeus, agradando a crítica e o público. Seu grande sucesso, “Aquele Abraço”, é lançado no Brasil durante o exílio.

Retorna ao Brasil em 1972 e durante dois anos percorre o país fazendo shows nas capitais. Sua versatilidade se revela não apenas no repertório em vários ritmos, mas também na diversidade de áreas nas quais colabora. Integrou o Conselho de Cultura da Bahia e presidiu a Fundação Gregório de Matos que tem por missão a revitalização da cultura afro-brasileira. Foi vereador da Cidade de Salvador e depois se desligou da política partidária, mas continuou engajado nos movimentos de resistência ao cerceamento da liberdade de expressão e defesa dos direitos humanos, sendo respeitado por líderes e entidades mundiais. Foi o primeiro brasileiro a se apresentar no Festival de Montreux, no qual, anos depois, seria homenageado. Acumula prêmios e condecorações em reconhecimento ao seu talento artístico e seus feitos como cidadão. Na condição de Ministro da Cultura se apresentou na Assembleia Geral da ONU – Organização das Nações Unidas.

Gil não ficou “Esperando na Janela”, ele foi “Andar com Fé” e mesmo não sendo o “Super-Homem”, acompanhou a “Procissão” buscando “A Paz”. Suas vivências são um “Ensaio Geral” onde se encontram os “Filhos de Gandhi” e o “Ilê Aiyê” e todas manifestações da nossa base cultural. Em ocasião histórica, Quixeramobim recebeu o então Ministro da Cultura, Gilberto Gil Passos Moreira, quando o Estado do Ceará oficializou o tombamento da Casa de Antônio Conselheiro, o peregrino fundador da Cidadela de Canudos.

Salve Gilberto Gil e gratidão pela arte que nos oferece, por ser tão nordestino e pela humildade inerente aos Sábios.

Foto: Divulgação

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