Foi em 2011, quando setembro chegou, que surgiu o grupo “RESGATANDO A BOEMIDADE” atendendo aos anseios de cidadãos e cidadãs amantes da boa música romântica. O desejo era recordar os tempos da juventude quando as canções chegavam através dos filmes exibidos no Cine Skeff, pelo rádio (restrito às residências que possuíam um receptor) e, principalmente, por meio dos alto-falantes espalhados pela cidade, através dos quais o visionário Fenelon Câmara divulgava informações e muita música.
De 1946 ao final dos anos 60, a amplificadora “A VOZ de CRISTAL” ofereceu bom entretenimento com destaque para o repertório musical na voz dos grandes cantores e cantoras da época. Quem viveu esse período na cidade “Coração do Ceará” recebeu a benéfica influência musical da “radiadora” e seu animador. À noite, após irem à missa ou novenas, as moças se dirigiam à Praça (chamávamos Avenida). Ali encontravam os rapazes, muitos dos quais visitavam antes o “Bar do Tito”. Em grupos ou pares caminhavam pela praça e se deliciavam com as “páginas musicais” saídas do toca-discos comandado por seu proprietário e locutor.
Mais uma vez recorro aos versos do conterrâneo Fausto Nilo, em uma de suas parcerias com o Moraes Moreira, na canção que me emocionou por me transportar no tempo e no espaço: voltei aos anos dourados e àquela praça da cidade onde nasci.
ALTO FALANTE
(Moraes Moreira e Fausto Nilo)
“Eu tenho no coração uma voz de cristal
De um alguém para outro alguém
Com amor e com carinho
Uma mensagem sonora
Um grito celestial
Eu sou um alto falante
Um boa noite cordial
O som do céu estrelado
E da aurora boreal
Eu tenho no coração uma voz de cristal
De um alguém, alguém que muito além
Não canta e chora sozinho
Que essa canção oferece a ninguém
Ou pra quem quiser ouvir
Uma canção, atendendo a pedidos
Do meu dorido coração.”
Os alto-falantes saíram de cena deixando um público refinado quanto ao repertório de canções, fator que assegura audiência às rádios do município que oferecem programas de estilo similar. E quando o apreciador ou apreciadora de música é dotado(a) de afinação musical, facilmente surge um grupo para cantar, tocar ou apenas se deleitar com boas recordações. Cito o exemplo dos “Coroas da Saudade” liderados pelos saudosos Dico Alexandre e Zé Artur Costa, reunindo ótimos instrumentistas e cantores e cantoras amadoras da cidade. Ao ser desfeito esse grupo, os seus “cantantes” sentiram a falta de um lazer tão saudável.
Correm os anos, mas não eram esquecidas as canções, nem arrefecia o desejo de cantar. Foi por essas razões que Neodêmia Costa e Aurélia Pimentel buscaram alternativas e, ao lado da então vereadora Liduina Leite e de Zé Artur Costa, com outros remanescentes dos “Coroas da Saudade”, organizam o Projeto “Resgatando a BOEMIDADE”. Os encontros se repetem em sábados alternados, das 21h00min à meia-noite, pois “cinderelos e cinderelas” cumprem os horários das épocas douradas de suas juventudes.
Uma comprovação de que a “união faz a força”, são os encontros do “Resgatando a BOEMIDADE”. Com sensibilidade e inteligência se delineou uma programação cultural focada na celebração do cancioneiro romântico da rica MPB. As adesões se multiplicaram e a Praça da Matriz recebe músicos, cantores, cantoras e plateia que se empolgam cada vez mais. As senhoras e senhores grisalhos revivem os momentos das noites de diversão naquela mesma praça e o repertório recorda as “páginas musicais” que o alto-falante comandado pelo Fenelon Câmara irradiava para a pequena Quixeramobim dos anos 40, 50 e 60. São “cantantes” que se inspiram nos grandes intérpretes brasileiros, com destaque para Nelson Gonçalves, Anísio Silva, Roberto Carlos, Núbia Lafayete, Ângela Maria, sambistas como Adoniram Barbosa e Ataulfo Alves. Alguns enveredam pelas guarânias, boleros e outras canções latino americanas.
Nesses encontros fazemos uma viagem no tempo através da música. Baseando-se no saber popular que afirma: “relembrar é viver” o “Resgatando a Boemidade” é recomendado para a vida saudável de muitos homens e mulheres que deram sua colaboração ao progresso de nosso Quixeramobim. Os encontros preencheram a ausência de entretenimento para os integrantes da melhor idade e deram oportunidade para que os coroas matassem a saudade soltando a voz novamente, no que foram acompanhados por novos seresteiros e seresteiras, pois “quem canta seus males espanta”.
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