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Até quando?

O assassinato da vereadora Yanny Brena, um caso de feminicídio praticado pelo namorado dela, que depois praticou o suicídio, comoveu o Ceará, repercutiu em todo o Brasil e no exterior. Que direito tem um homem, qualquer homem, seja quem seja este homem, de se achar dono do corpo, da mente e da vontade de uma mulher? Yanny Brena tinha 26 anos, era médica, ocupava a presidência da Câmara Municipal de Juazeiro do Norte, e tinha uma vida de grandes perspectivas pela frente.

Como compreender que pela vontade contrariada de um homem, a vida dela tenha sido interrompida porque ele quis e assim decidiu? Por que? Por trás de todos os boatos, falácias e informações desencontradas que surgiram no calor da hora quando o trágico episódio se tornou público, o que se sobrepôs foi a evidência de um crime de feminicídio, mais uma ocorrência de agressão fatal contra uma mulher.

A cada morte de mulheres nas condições em que Yanny foi assassinada, o que se exige de toda a sociedade é uma reflexão mais profunda. É preciso ir além de reagir com curiosidade e comoção naquele padrão das redes sociais, e nos somarmos para entender que isso não pode continuar. Reflita. De repente, ao seu lado, na sua vizinhança, no seio de sua família, pode ocorrer uma violência semelhante a essa.

A imprensa noticia todos os dias assassinatos de mulheres. Mulheres vítimas de namorados, às vezes homens muito jovens e despreparados para tudo, mulheres vítimas de maridos com quem conviviam há décadas, vítimas de amantes, ficantes, parceiros que não aceitam o fim de uma relação, e matam. O que acontece com esses homens? Por que se tornam assassinos? Homens que matam mulheres, em todos os casos, são do tipo que não aceitam não ter o controle sobre os corpos, os desejos, as vontades e as mentes destas mulheres. Por que?

Somos um país com histórico de violência contra a mulher e contra as minorias desde as caravelas de Pedro Álvares Cabral. A região do Cariri, onde Yanny vivia, é campeã de casos de agressões contra as mulheres. Temos ocorrências em todas as classes sociais neste país, inclusive entre as mais endinheiradas, e o motivo é sempre o mesmo. Por que?

O Brasil de hoje tem a Lei Maria da Penha, tem a Lei do Feminicídio, tem penas mais duras contra agressores de mulheres, tem delegacias especializadas, Casa da Mulher Brasileira, Casa da Mulher Cearense, e um longo caminho a percorrer porque os casos que colocaram a jovem vereadora Yanny Brena nas estatísticas fatais de violência extrema não param de acontecer.

A Lei do Feminicidio reconhece como crime hediondo matar uma mulher em razão do gênero, e mesmo assim, porque os feminicidas, os agressores que se tornam assassinos agem sem temer as consequências da Lei? O homem que matou Yanny se suicidou para não enfrentar a legislação, mas quanto tempo duraria a pena dele caso estivesse vivo e preso para pagar pelo que fez? Vamos continuar assim até quando? Noticiando, registrando, fincando cruzes nos cemitérios até quando? O que nós, enquanto sociedade, nós homens, estamos fazendo para entender isso e para mudar mentes e costumes e aceitar o direito das mulheres de jamais serem subjugadas por homem nenhum?

Cláudio Teran
Jornalista

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