Não se deve pretender – é antidemocrático – negar à oposição o direito de espernear. Eles foram colocados na calçada do palácio a sol e chuva foi para isso mesmo: gritar ao pé de suas janelas altas e quase sempre fechadas.
Enquanto os séquitos bajuladores tentam proteger o Príncipe numa bolha de otimismo narcisista, é a oposição (e a repercussão que a imprensa lhe oferece) que mantém seus pés presos à aspereza do chão que chamamos de Realidade.
No entanto, em três aspectos a oposição que se faz hoje a Lula lá e Elmano cá me incomoda – pouco ou muito, a depender da folha corrida do agente denunciante.
Em primeiro lugar, pelos sintomas de uma predisposição deletéria, uma vez que esses governos cumpriram apenas 1/16 avos de seu mandato (mal dá para decorar a senha dos computadores e aprender o nome da companheira que serve o cafezinho no turno da noite).
Incomoda ainda porque às vezes a crítica dessa oposição aos governos do PT parte de gente que não se ocupou muito em combater a desumanidade do governo anterior de Bolsonaro. Quem ficou calado diante de um genocídio, hoje berra para manter o famigerado teto de gastos que, por sinal, já tinha virado letra morta com Bolsonaro.
Por fim, no caso estadual, muitos desses agentes críticos se expressam a partir de uma retórica com aparência de isenção, quando, ao contrário, foram protagonistas do projeto político que agora atacam com apetite selvagem. Muitas delas, críticas pontuais (outras não), oportunizadas por flancos de fragilidade legados e não decorrentes de ato próprio do governo que começa agora.
Não significa que também não estejamos a observar e avaliar. Estamos. Mas quem bate pesado em governo que ainda nem terminou de organizar suas gavetas, atua como um player que joga suas fichas à mesa antes de receber as cartas. Está dizendo em alto e bom som que não deseja boa convivência. E, portanto, dispensa igualmente – pela Lei Geral da Reciprocidade – colaboração.
Ricardo Alcântara
Escritor e publicitário
Foto: Sérgio Lima/AFP