Logo após a passagem do ano velho para o novo, o povo sertanejo vai aos vizinhos, à padaria e à igreja, e começa questionar se haveremos de ter uma quadra chuvosa abaixo ou acima da média.
Após essas primeiras discussões do dia, toma-se um bom café com pães e ovos, e entre um palpite e outro observa-se os céus, o sol, os ventos, e os costumes do seu habitat natural.
Sim, é o início da peleja que cresce e vira reunião, disputas, erros e acertos. Os profetas das chuvas são chamados aos debates. E eles comparecem em massa.
Zé Vicente, cantor e poeta de Orós, reúne todos os anos na chamada Casa Mãe, debaixo de vultosas árvores e dos alpendres de seu lar abençoado, de trinta a quarenta profetas. Em círculo, todos ou quase todos prestam seu testemunho e experiência; vai ter chuva? Não vai ter chuva? Vai ser pouca, mas pode ser muita.
Ao final da reunião é anunciado o que pensa a maioria, ou seja, que em 2024 vai ter muita chuva ao ponto de sapo se socorrer através das canoas estacionadas a beira do açude Orós.
A mesma coisa ocorreu em Quixadá. Os profetas também anunciaram muita chuva, com direito a relâmpagos e trovões. Pelo sim ou pelo não, a FUNCEME do Governo do Estado do Ceará também procurou a imprensa cearense. “Ei vocês aí. Podem espalhar que nós estamos dizendo que teremos chuvas, mas bem pouquinho ao ponto de vocês sentirem falta de 2023”.
Após as profecias e os prognósticos da Funceme, os palpiteitos entraram na briga, mesmo sem o devido chamamento. Dizem eles que confiam mais nos profetas, mas a outra metade diz que quem sabe mesmo são os aparelhos científicos da Funceme.
O Governador, os deputados e os prefeitos silenciam, porém como são muito religiosos e dizem que Deus sabe sempre o que faz, com chuva ou sem chuva.
E pra finalizar, consultei Cidinho Batista, o Pensador aqui do Vale do Salgado, que afirmou: “quem sabe mesmo são os profetas. Aqui é chuva todo dia e toda a hora, de manhã, tarde e de noite”.
Pronto: teremos mais chuvas do que no ano findo.