O indígena Robson Rocha, 21 anos, do povo Kanindé, resolveu romper barreiras e realizar seu sonho de se tornar médico. Estudante do 5º semestre de medicina do Instituto de Educação Médica (IDOMED), em Canindé, no Sertão Central cearense, o seu maior incentivo foi a vontade de mudar a vida da família, moradora da Aldeia Gameleira, área rural, distante mais de 15 quilômetros do centro do município. Sem muitas condições financeiras, eles sobrevivem da agricultura em uma terra árida e que, por longos períodos, sofre com a estiagem.
“Desde muito criança eu já sabia que queria ser médico. Embora eu soubesse que era muito importante eu trabalhar na roça para ajudar meus pais e avós, eu não gostava do serviço. Então, eu sempre me dediquei muito aos estudos porque sabia que isso poderia mudar as nossas vidas”, disse Robson. Apesar do sonho, Robson enfrentou resistência. “Convencer minha mãe a ir pra cidade estudar e se afastar mais dos velhos costumes da aldeia não foi fácil”, pontua.
Com o Enem, Robson foi aprovado para o curso de enfermagem. “Mas eu sabia que meu sonho era medicina. Não conseguia tirar da mente, então continuei estudando”. Com a chegada da pandemia da Covid-19, Robson precisou trabalhar e conciliar os estudos. Logo depois o IDOMED chegou em Canindé. “Logo eu fiquei sabendo das bolsas pelo programa Mais Médicos, eu vi a oportunidade, foquei nos estudos e consegui ser aprovado em 2022. Foi o dia mais feliz da minha vida. Apesar das dificuldades que ainda tenho, conto com o apoio dos meus pais e da minha aldeia”, conta Robson.
O futuro médico pensa em iniciar a carreira em Canindé e especializar-se em cirurgia robótica. Porém, também gosta da área da saúde da família, pois quer colaborar com os atendimentos das pessoas do seu município e da sua comunidade. Robson é o primeiro indígena Kanindé a cursar medicina e também sente que tem a missão de mostrar para o mundo que o seu povo é resistente e merece, além de respeito, reconhecimento.
“Estamos ocupando cada vez mais espaços. Infelizmente muita gente ainda acha que o indígena é para viver na mata, seminu ou nu, tem pele escura e cabelo liso com corte arredondado. Então, eu estar em certos lugares colabora para a mudança de pensamento e erradicação de preconceitos. Meus sangue, costumes e crenças e a minha família não vão ser apagados nunca pelo fato de eu usar calça ou ocupar uma vaga em um curso de medicina, jamais!”
A diretora do curso de medicina, Iael Marinheiro, comemora o empenho do aluno e torce pelo sucesso do futuro médico. “Ele é um exemplo para muitas pessoas e até para muitos indígenas, pois mostra que todo sonho é possível de ser realizado. Termos o Robson como aluno é muito importante pois amplia a troca cultural e promove o respeito. Não é só o Robson que aprende conosco, nós também aprendemos muito com ele”.