Home Terezinha Oliveira Um rio agonizante e o descaso de uma cidade

Um rio agonizante e o descaso de uma cidade

Cuidemos dessa “artéria” do “Coração do Ceará”, pois a força da água pode ter consequências danosas para a vizinhança onde residem e/ou trabalham moradores da cidade descuidada. Está na hora de buscar medidas que atenuem o desequilíbrio ambiental

Foto: Lucas Albuquerque/Arquivo/SMC

Os cursos d’água foram os caminhos percorridos pelos “Tangedores de Gado” em busca de terras propícias ao criatório de animais para alimentar o polo açucareiro da Zona da Mata. Ao se depararem com um sítio plano no sopé do serrote cortado pelo Rio Ibu, o escolheram como um “pouso” ideal para instalar a fazenda da qual surgiu a cidade, como diz o nosso hino. Ao refletirmos sobre este curso d’água surgem muitas faces:

  • a Geográfica explicando o Boqueirão;
  • a Histórica registrando os primeiros vaqueiros;
  • a Ecológica que diz sua riqueza de fauna e flora;
  • a Vida que é alimentada por suas águas e peixes;
  • o Lazer com as brincadeiras aquáticas: saltar, nadar, dar “cangapés”,
  • a Econômica, pois o Turismo é favorecido pela paisagem atraente em vários trechos que requerem serviços de apoio.

Entretanto, a cidade que deve tanto a esse rio tem sido indiferente ao seu destino e os problemas se acumulam. Moradores inconscientes jogam seus detritos nas margens e no seu leito. Algumas ocupações indevidas comprometem as faixas ribeirinhas. Outro fato que agravou a garantia dessa fonte de abastecimento da cidade é o intenso assoreamento do leito da represa causando a redução da capacidade de armazenamento do açude Engenheiro José Cândido de Castro de Paulo Pessoa, inaugurado em 1960 para ser a redenção hídrica deste lugar. Sem as devidas ações de dragagem na área onde se acumulam detritos, o quadro atual traz ainda a preocupação com a segurança daquela estrutura cujo uso é fundamental como ligação rodoviária.

Dádiva da divina natureza, essa corrente fluvial inserida na bacia hidrográfica do maior rio seco do mundo – o Rio Jaguaribe – hoje é o agonizante Rio Quixeramobim. Mas o que está sofrível vai trazendo mais preocupações – no trecho central da área urbana são vistas árvores crescendo no leito onde as águas devem correr. E aí? Por onde irão escorrer as “Águas de Março”, abril, maio etc. Esse não será mais o “rio caminho que anda o mar te espera”, como escreveu Luiz Antônio para Miltinho cantar. Cuidemos dessa “artéria” do “Coração do Ceará”, pois a força da água pode ter consequências danosas para a vizinhança onde residem e/ou trabalham moradores da cidade descuidada. Está na hora de buscar medidas que atenuem o desequilíbrio ambiental. O que fazem as autoridades?

Mas pra não dizer que não falei de coisas belas, recorri a inspiração de um conterrâneo que nasceu, morou e brincou bem perto dessas águas que alegraram várias gerações por aqui.  Assim escreveu Fausto Nilo na canção que lembra um recanto tão significativo na memória dos seus frequentadores:

MARINHEIRAS
“Quando for de tardezinha minha companheira
Na beira do Rio, lá nas Marinheiras,
Meus olhos vazios vão te espiar
Lembra da lua saindo por trás da palmeira
O Rio é profundo e a dor traiçoeira
tem dedos macios pra me pentear
Nunca matei passarinho esse é meu segredo,
Que a água do Rio não pode escutar.”

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