Nos tempos de estudante de Direito na Universidade de Fortaleza (UNIFOR) aproveitava os intervalos para conversar com colegas, entre eles Antônio de Pádua, Fábio Nogueira, José Nunes Rodrigues, e outros valorosos companheiros. Nossas discussões variavam de direito, futebol, política, educação, enfim, de tudo um pouco.
Naquele ambiente, fui incentivado a iniciar um estágio no Fórum, já que, segundo esses amigos, eu tinha certa habilidade para falar e escrever. Segui o conselho e comecei na terceira vara do júri, no antigo Clóvis Beviláqua. O juiz da vara, Dr. Darival Bezerra, era conhecido por ser rigoroso e justo, mas também demonstrava muita empatia pelas pessoas.
Dr. Marcos de Holanda, meu professor na UNIFOR, era o promotor da 3ª vara do júri. Ele se destacava pela serenidade e justiça, sendo um verdadeiro fiscal da lei. Dr. Antônio Almeida, o “Almeidinha”, era o defensor público e meu mentor.
Ao lado dessa vara, havia outra presidida pelo Dr. Celso Girão. Frequentemente, eu levava pessoalmente seus textos para serem publicados no Jornal Tribuna do Ceará. Curiosamente, ele escrevia sobre tudo, menos sobre direito. Quando perguntei o motivo, ele respondeu: “Não gosto de polêmica. Sempre aparece alguém para criticar e me aborrecer.” Ele estava certo. No Brasil, tudo vira um grande “mi mi mi”.
Recentemente, o assunto do momento nas redes sociais tem sido a proposta do Governador do Ceará de distribuir bíblias nas escolas públicas a pedido do deputado Apóstolo Luiz Henrique. Sabemos que o Estado é laico, ou seja, deve tratar todas as religiões e filosofias de vida de forma igual, inclusive o ateísmo. Foi o suficiente para gerar uma enxurrada de debates.
O médico Mário Mamede, um pacifista, escreveu uma Carta Aberta ao Governador, lembrando-o que o Estado é laico e criticando a Assembleia Legislativa por aprovar projetos sem considerar a legislação vigente. Em resposta, o Apóstolo Luiz Henrique, em entrevista à rádio O Povo, defendeu sua proposta, explicando sua motivação.
Enquanto o Apóstolo expunha seus argumentos, a Assembleia Legislativa aprovava emenda que inclui agora todas as religiões no projeto. Será esse o fim da polêmica?
Dr. Celso Girão tinha razão!