Com as eleições de 2024, quando serão eleitos prefeitos e vereadores para os 5.570 municípios brasileiros, a transição de gestão tem forte impacto no funcionamento da máquina pública, com a saúde uma das principais áreas afetadas. Aliás, o tema sempre fomenta as promessas de campanha.
Na verdade, diferentes situações contribuem para o impacto na saúde, considerando a transição de uma gestão para a outra.
Com o fim de um mandato, o principal e mais recorrente deles ocorre porque os secretários de saúde da gestão que está saindo costumam cortar despesas a fim de alcançar o ajuste nas contas, o que pode prejudicar o atendimento à população nesse e nos anos seguintes da nova administração.
A prestação dos serviços de saúde se dá, de fato, nos municípios, principalmente a atenção primária, com o acesso da população à esfera pública de forma direta acontecendo através do Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo Álvaro Madeira Neto, médico sanitarista e gestor em saúde, o SUS, desde sua criação, tem sido uma conquista monumental para o Brasil. “Com o passar dos anos, evoluiu significativamente, buscando descentralizar suas operações e fortalecer a regionalização e a participação popular. Isso permitiu que o poder e os recursos fossem distribuídos para os estados e, principalmente, para os 5.570 municípios brasileiros”, explica.
No entanto, ele lembra que o caminho do SUS não é isento de desafios. “Um dos problemas mais persistentes é o subfinanciamento, agravado pela falta de uma política clara e sustentável para a alocação de recursos. Muitas vezes, a saúde é financiada por emendas parlamentares que não são utilizadas de maneira planejada e estratégica. Isso cria uma espécie de ‘cobertor curto’, onde não se consegue atender todas as necessidades com os recursos disponíveis. Essa realidade limita a capacidade dos municípios de oferecer um atendimento de qualidade e de responder de forma ágil às necessidades da população”, afirma.
Desigualdade no acesso aos serviços
Outra questão crítica a ser vencida pelos gestores municipais, emenda Madeira Neto, é a desigualdade no acesso aos serviços de saúde. Mesmo com os avanços, ele assinala que muitas regiões do Brasil continuam sofrendo com a falta de acesso adequado a serviços básicos de saúde.
“Essa desigualdade não é apenas geográfica, mas também socioeconômica, onde os mais pobres têm menos acesso a tratamentos e cuidados de qualidade”, pontua.
Razão pela qual, ele aponta que, além da modernização da infraestrutura municipal de saúde, a adoção das tecnologias emergentes, como a telemedicina, é um novo desafio que surge, tornando-se urgente para poder superar essas barreiras, especialmente em áreas rurais e periferias urbanas.
Arboviroses persistem ano após ano
Outro problema recorrente, destaca o especialista, é o aumento da incidência de doenças como a dengue e outras arboviroses, que se repete todos os anos.
“É frustrante perceber que doenças que sabemos como prevenir ainda afetam milhares de pessoas. Falta investimento em prevenção e políticas públicas eficazes, além de uma infraestrutura adequada para o controle de vetores e saneamento básico”, fala.
Inovação e compromisso com a saúde
Na avaliação de Madeira os desafios são enormes na área da saúde para os novos gestores, fazendo com eles tenham que assumir um compromisso verdadeiro com a saúde pública, garantindo que os recursos sejam bem aplicados e que cada real investido faça a diferença na vida das pessoas.
“Eles precisarão inovar, trazendo tecnologias que possam tornar o atendimento mais ágil e eficaz, e, principalmente, precisam ouvir a população”, orienta.
Ainda de acordo com ele, os próximos anos serão decisivos. “Temos a oportunidade de transformar o SUS, tornando-o mais inclusivo e eficiente. Para isso, precisamos de gestores comprometidos, com visão e coragem para enfrentar os desafios de frente. A saúde é um direito de todos, e garantir esse direito é uma responsabilidade que todos nós compartilhamos”, conclui.