O embate deprimente entre Pablo Marçal e Datena, na TV Cultura, era para ser um debate de propostas, mas se tornou uma novela, que está gerando comentários até agora. Muitos memes e poucas reflexões sobre mais um capítulo da teatralização da política brasileira. A violência simbólica, aquela que agride a dignidade e alimenta o desrespeito, parece estar cada vez mais normalizada em nossos debates eleitorais. Estamos vivendo uma crise política ou uma crise de bom senso?
O baixo nível de maturidade política que se transforma em meme e engaja milhões é, na verdade, um reflexo da “sociedade do espetáculo” que Guy Debord tão bem descreveu. Nesse cenário, a política vira um show, com personagens desempenhando papéis de vilões ou heróis, e o eleitorado, muitas vezes, consome esse conteúdo vazio sem qualquer reflexão crítica. As provocações entre candidatos não são novas, mas a forma como elas são amplificadas e celebradas hoje merece atenção.
Esse tipo de “lacração” — falas preparadas para gerar impacto imediato nas redes sociais — acaba substituindo o debate sério sobre propostas e soluções. Poucos questionam o conteúdo ou a falta de profundidade nas discussões, e muitos se deixam levar pela encenação. As redes sociais e sua busca por viralização ajudam a alimentar essa dinâmica, onde a forma é mais importante que a substância.
Mais do que nunca, a política precisa resgatar o compromisso com propostas concretas e abandonar o espetáculo pelo espetáculo. O Brasil enfrenta desafios reais que não podem ser resolvidos com falas vazias ou ataques pessoais. Precisamos de menos lacração e mais inteligência emocional na política, para que a verdadeira democracia prevaleça sobre o entretenimento raso. Quem ganhou? A violência física de Datena ou a verbal de Marçal? Não importa o quanto discorram em defesa de A ou B, todas devem ser condenadas. E quem perdeu? Para essa pergunta, não há dúvidas: perdemos todos nós.