O casal Haydée de Viana Oliveira Paula e Francisco Anysio de Oliveira Paula recebeu com alegria o nascimento do terceiro filho. Mas a pequena Maranguape não imaginava que aquela data – 12 de abril de 1931 – seria referência comemorativa do “Dia do Humor”, inicialmente no Estado do Ceará e posteriormente em todo Brasil. Era impossível prever quanta criatividade, inteligência e poder de improviso iria desabrochar com o crescimento do garoto/rapaz Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho.
A mudança da família para o Rio de Janeiro abriu várias perspectivas profissionais para o moço cearense, entre as quais os estudos para ser advogado. Mas os microfones, as câmeras de televisão e cinema, os estúdios de emissoras, os palcos e até cabines de estádios foram o ambiente para soltar seu talento. Ele foi Locutor, Radio-Ator, Ator, Apresentador, Roteirista, Produtor, Dublador, Escritor, Compositor e HUMORISTA.
A família tem a verve artística; a mãe, Dona Haydée, era pianista e compôs canções com o Chico. Elano, o irmão mais velho, compôs “Canção de Amor”. Lupe Gigliotti (a Escolástica da Escolinha), além de atriz, foi diretora de teatro; sua filha Cininha de Paula também é atriz e diretora de TV e Teatro. A filha de Cininha é a atriz Maria Maya. Outro irmão é o cineasta Zelito Viana, que é pai do ator Marcos Palmeira. Dentre os filhos de Chico Anysio estão os comediantes Lug de Paula, Nizo Neto e Bruno Mazzeo, o diretor de imagens Rico Rondelli e o DJ Cícero Chaves. Outros dois filhos não seguiram a tradição artística, enquanto o filho adotivo André Lucas seguiu a veia da comédia.
O jovem Francisco buscou oportunidades nos programas de calouros fazendo imitações e assumiu programas na madrugada. Sua versatilidade era demonstrada sempre que surgiam desafios até no âmbito de transmissões esportivas. Nas comunicações, ele foi o momem de mil instrumentos. Criou e comandou programas nas TVs Rio, Tupi, Excelsior e Globo – “Chico City”, “Chico Anysio Show” e a “Escolinha do Professor Raimundo”, que ainda hoje é reprisada no Canal Viva. Impossível enumerar os quadros criados em seus programas – o “Jornal do Lobo” fica devendo esse dado. Mas aquele corpo magro de mente fértil e dom artístico da metamorfose deu vida a mais de 200 personagens moradores da “Chico City” – desde o prefeito Walfrido Canavieira ao esnobe Justo Veríssimo, o ator Alberto Roberto e o global Bozó, as damas Neide Taubaté e Salomé, o mentiroso Pantaleão, o doce Painho, o craque Coalhada, o pão duro Gastão, Popó, Tavares, Véio Zuza e tantos outros que foram repousar com Chico em 23 de março de 2012.
O cidadão Francisco Anysio de Paula Filho foi iluminado pelas artes e agraciado pelo sentimento da amizade por seus colegas de caminhadas. Quando a Globo abriu a última Escolinha comandada pelo Chico propôs apenas 16 integrantes, mas o “Mestre” foi ampliando as vagas para que companheiros inativos pudessem ter um ganho salarial e desfrutassem do convívio dos demais, pois quem vive a ociosidade e a distância dos amigos sabe como é triste. Sentados nos bancos da Escolinha estiveram grandes atores: Lúcio Mauro, Brandão Filho, Zé Vasconcelos, Walter D’Ávila, Antônio Carlos, Grande Otelo, Ivon Curi, Ronni Cócegas, Rogério Cardoso, Orlando Drumond, Zezé Macedo, Berta Loran e outros nomes como Costinha, cujo personagem Mazarito lembra dois ícones do humor nas telas dos cinemas – Mazzaropi e Oscarito.
Chico Anysio escreveu vários livros e se dedicou às artes plásticas tendo como tema paisagens marinhas. Dentre suas composições musicais algumas eram inseridas nos programas humorísticos e muitas foram gravadas por grandes intérpretes como Elis Regina, João Nogueira e outros.
Gratidão a você, Chico, por toda arte que nos apresentou.