O jornalismo declaratório tem dominado a cobertura política, especialmente em tempos de eleição. Essa prática, caracterizada pela simples reprodução de falas de políticos ou outras fontes de informação, sem qualquer aprofundamento ou verificação, tem se mostrado um caminho fácil para grandes veículos garantirem audiência rápida e números de cliques elevados. Mas não é só isso.
O Intercept Brasil comentou o tema trazendo o exemplo que aconteceu nas eleições de São Paulo, quando o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) alegou, sem nenhuma prova, que o PCC havia enviado a ordem para votar no candidato Boulos (PSOL). Em vez de a Folha de SP pedir provas sobre a acusação, apenas reproduziu a declaração, que é mentirosa.
De acordo com levantamentos da Agência Pública, Pablo Marçal (PRTB), que disputava a prefeitura de São Paulo, teve mais destaque na cobertura da imprensa do que seus concorrentes, praticamente quadruplicando suas menções em reportagens.
Ao atuar dessa forma, a grande mídia automaticamente se transforma em um canal de propaganda, servindo aos interesses de quem tem mais influência e dinheiro para investir em publicidade e campanhas de desinformação. A mídia, ao invés de agir como filtro, acaba atuando como um amplificador de discursos sem compromisso com a verdade.
Na contramão do ocorrido em São Paulo, em Fortaleza, a justiça multou André Fernandes (PL) por associar o PT a facções, exigindo direito de resposta e exclusão das postagens nas redes sociais. E não foi a primeira vez. Quando deputado estadual, em 2019, André foi condenado a indenizar o deputado Nezinho Farias (PDT), por dizer que ele estaria envolvido com facções criminosas cearenses. Também sem provas, acusou o deputado Osmar Baquit (PDT) de ser aliado de quadrilhas criminosas do interior do estado. Além disso, teve um post apagado pelo Instagram por trazer dados enganosos sobre a saúde do Ceará na pandemia.
Durante as eleições, acompanhamos algumas críticas em relação às conduções dos debates e de algumas entrevistas. Quando o jornalismo falha em questionar as declarações e promessas dos políticos, perde-se uma oportunidade de fortalecer a democracia e de conectar o debate político aos problemas reais da população. Essa omissão da imprensa significa a perpetuação de práticas políticas pouco transparentes e uma população cada vez mais sujeita à manipulação.
Apenas com uma imprensa comprometida é que poderemos enfrentar a desinformação e construir uma sociedade mais democrática, bem informada e consciente sobre os fatos.