O aumento salarial de vereadores e deputados estaduais no Ceará expõe uma realidade desconfortável: a discrepância entre a celeridade na aprovação de benefícios para a elite política e a morosidade em reconhecer os direitos de servidores públicos e trabalhadores.
Enquanto a inflação média nos últimos quatro anos gira em torno de 6%, parlamentares cearenses aprovaram aumentos bem acima desse índice. Os vereadores, por exemplo, terão um salto salarial de 35% em 2025, elevando seus vencimentos de R$ 19 mil para R$ 26 mil.
Já os deputados estaduais recebem reajustes escalonados que os levarão de R$ 29,5 mil, em 2023, para R$ 35 mil no próximo ano. Tá bom ou quer mais?
Esse cenário contrasta com a realidade dos servidores públicos, onde os reajustes salariais não acompanham sequer a inflação acumulada. Muitos enfrentam meses de negociação e barreiras políticas e econômicas que, curiosamente, desaparecem quando o debate é sobre os próprios subsídios dos parlamentares.
Tudo isso reforça a sensação de que, no Brasil, há dois pesos e duas medidas para lidar com o interesse público.
E mais: esses aumentos acontecem em um contexto de extrema desigualdade, onde 70% da população vive com até dois salários mínimos. A indignação popular é inevitável, já que os parlamentares, eleitos para representar o povo, parecem alheios às dificuldades enfrentadas por milhões de brasileiros.
O desafio vai além do debate salarial. Trata-se de resgatar a credibilidade e o propósito do serviço público, o que exige mudanças estruturais que incluam mais transparência, participação cidadã nos processos decisórios e maior responsabilidade política.
Até quando seguiremos assistindo à disparidade entre quem legisla e quem é diretamente afetado pelas decisões tomadas?