Nos últimos meses, o governo federal tem enfrentado dificuldades em consolidar medidas que, ao serem anunciadas, geram intenso debate e, logo em seguida, são revogadas.
Esse padrão recorrente, marcado pela ausência de uma unidade estratégica e pela falta de clareza nos objetivos, levanta questões sobre a capacidade de articulação do governo e seu impacto na percepção pública. Essa situação dá munição para a oposição, que utiliza episódios como esses para fortalecer narrativas que desgastam ainda mais a administração federal.
A revogação do monitoramento do Pix é mais um exemplo. Houve uma redução no volume de transações via Pix, despencando 10,9% entre 4 e 10 de janeiro, após uma onda de desinformação intensificada por vídeos como o do deputado federal Nikolas Ferreira (PL).
A medida foi lançada e, poucos dias depois, revogada, dando força à narrativa de que a pressão pública ou os “alertas” da direita foram responsáveis pela mudança de rumo do governo. Na prática, essa dinâmica fragiliza a imagem governamental e legitima um roteiro político desenhado pela oposição: “somos nós que fazemos o governo recuar”.
A ausência de uma estratégia clara entre as diferentes esferas do governo expõe um desalinhamento preocupante. Enquanto parte do governo tenta avançar com propostas polêmicas, outra parece ser pega de surpresa pelo impacto público.
O resultado é um bafafá que confunde a população e enfraquece a base de apoio necessária para sustentar decisões complexas, especialmente em um momento em que a aprovação presidencial está em queda e as eleições se aproximam.
O tempo para corrigir esses erros é curto, e a margem para novos deslizes, quase inexistente.
