A saída de Juscelino Filho do Ministério das Comunicações era questão de tempo. Não pela pressão ética que deveria ser inerente a qualquer governo comprometido com a moralidade pública, mas porque a lama havia transbordado demais para ser ignorada. Com a perspectiva de se tornar réu no Supremo Tribunal Federal, o agora ex-ministro deixa o cargo sob a sombra do que sempre o acompanhou: suspeitas, escândalos e um currículo político manchado desde o início.
O caso de Juscelino não é isolado — é emblemático. Ele representa a face de um sistema político que, apesar dos discursos inflamados sobre nova política, continua a se alimentar das práticas mais velhas e viciadas do poder. Sua ascensão ao ministério não se deu por competência técnica, muito menos por méritos democráticos ou respaldo popular. Foi fruto de um toma-lá-dá-cá escancarado, negociado nos bastidores com partidos do centrão e tolerado por um governo que, mais uma vez, cedeu à lógica da governabilidade a qualquer custo.
Lula sabia quem era Juscelino. O país sabia. A imprensa revelou com detalhes os indícios de corrupção, os gastos indevidos com dinheiro público, os lobbies, os cavalos de raça pagos com emendas, os voos da FAB para compromissos particulares. Ainda assim, o presidente manteve o ministro no cargo, protegendo-o como se não houvesse alternativa. Agora, com o cerco da Justiça se fechando, a saída é vendida como um gesto de responsabilidade. Mas é, na verdade, uma rendição tardia à pressão da realidade.
O que nos resta perguntar é: quantos “Juscelinos” ainda restam no governo? Quantas pastas seguem ocupadas por indicações políticas cujo único mérito foi ajudar a construir uma base no Congresso? A saída de um nome não apaga a estrutura que o sustentou. E é justamente essa estrutura — corrompida, fisiológica, insaciável — que continua governando.
A corrupção não começa quando o escândalo estoura. Ela começa na escolha. No momento em que se escolhe nomear alguém como Juscelino, sabendo de seu histórico, já se está contaminando o governo. O erro não foi o que ele fez, foi permitir que ele estivesse ali.
Juscelino sai, mas o que fica é um governo manchado pela contradição. Um presidente que, outrora, enfrentou a perseguição judicial em nome da justiça, hoje cede espaço para que suspeitos se escudem sob o guarda-chuva do poder. A reflexão que precisa ser feita é dura, mas necessária: de que adianta reconstruir a democracia se ela for entregue, de bandeja, aos mesmos esquemas de sempre?