Sempre caminhei ao lado das forças progressistas. Meu voto já percorreu as trilhas de Brizola, as esperanças de Lula e os projetos de Ciro. Fui de Lula a Dilma, retornei a Ciro, e mais uma vez confiei em Lula. No Ceará, segui o compasso da mudança: Tasso, Ciro, Lúcio, Cid, Camilo. Mais atrás, entre crenças e utopias, confiei em Juraci Magalhães e Gonzaga Mota, mesmo que o povo não os tenha conduzido ao Governo do Estado. Não tive a oportunidade de votar em Elmano, pois venceu no primeiro turno.
Pois bem. Vou falar de Cid Gomes. Um governador cuja memória ainda floresce em todo o Ceará, onde sua gestão fez brotar melhorias em meio à aridez do semiárido. Mas algo mudou. Nas últimas eleições, ele escalou o time, armou a partida e, de súbito, retirou-se do jogo. Um silêncio subiu a serra da Meruoca e se instalou entre as brumas. Não atendeu, não recebeu, não explicou. Simplesmente sumiu…
Ficamos órfãos de um líder que sempre foi certeiro nas entrelinhas, um homem de códigos e intuições. O que houve? Na verdade ninguém conhece por inteiro. Falam em saúde, falam em família. Talvez tenha sido um cansaço, talvez decepção. Quem saberá? Uma dessas jogadas de xadrez que só se compreende no xeque-mate final.
Mas Cid voltou. E voltou como quem nunca deixou de estar. Diz que não quer mais o Senado, tampouco o Palácio da Abolição. Mas quem o conhece sabe: o “não” dele pode ser um “sim” agachado, pronto para saltar no tempo certo.
Lembro quando jurou, de coração, e por sua mãe “que, se viva fosse, não sabia o nome do seu sucessor”. Todos já sabíamos. Era Camilo. E foi. E venceu. Ali, o mistério era mais encenação do que incerteza. Palavras de Cid sempre carregaram um perfume de enigma.
Agora, ele deixou o exílio de vez. Faz política como respira. E o que virá depois das águas de março de 2025, com o Orós cheio até a borda e o sertão renascendo em verde? Talvez um novo capítulo, talvez uma revoada, talvez apenas mais silêncio.
Só o tempo dirá se o homem da Meruoca volta à linha de frente ou continua tecendo nos bastidores os rumos de um Ceará que, gostem ou não, alguns, ainda o escuta e muito.