A Associação Cearense de Imprensa (ACI) chega, em 2025, aos seus cem anos de fundação. Uma entidade centenária, nascida no fervor do jornalismo impresso e testemunha dos ciclos políticos, sociais e culturais que moldaram o Ceará ao longo do século XX. Trata-se de uma data histórica que deveria mobilizar a imprensa, os profissionais da comunicação e a sociedade como um todo. Mas, estranhamente, pouco ou nada se ouve sobre isso.
Como jornalista e dirigente de um sistema de comunicação, observo com apreensão esse silêncio. É como se a ACI estivesse distante de sua própria relevância. O centenário da entidade passa quase despercebido — e isso levanta questões importantes sobre o momento atual da instituição e o papel que ela ainda pode (ou deve) desempenhar.
Essa reflexão tem sido expressa com propriedade por Auriberto Cavalcante, jornalista, escritor e poeta, que há décadas acompanha de perto a trajetória da ACI. Em recente manifestação pública, ele fez críticas contundentes sobre o atual estado da associação, destacando, por exemplo, o abandono do Prêmio ACI de Jornalismo, Radialismo e Televisão, que já foi considerado o “Oscar da Imprensa do Ceará” e está sem edição há quase uma década.
Auriberto também aponta o descumprimento do estatuto da entidade, além da ausência de atividades, debates e iniciativas que estimulem a qualificação profissional e a valorização do jornalismo cearense. Suas palavras ecoam o sentimento de muitos que ainda acreditam na ACI, mas desejam ver nela uma postura mais ativa, democrática e conectada com os novos tempos.
Como comunicador não posso ignorar sua importância histórica. A ACI tem um legado que ultrapassa a relação institucional com seus membros. É parte da memória coletiva da imprensa cearense. Por isso, seu futuro não interessa apenas a quem tem direito a voto, mas a todos que defendem um jornalismo livre, ético e plural.
A renovação, que se anuncia com a formação de novas chapas e propostas, pode ser uma oportunidade de ouro. O momento exige coragem para resgatar o que foi deixado de lado, modernizar o que estiver ultrapassado e preservar o que ainda faz sentido. A comunicação vive novos desafios, e a ACI precisa estar à altura deles — aberta à diversidade, conectada às novas linguagens e próxima da sociedade.
Mais que comemorar um marco temporal, o centenário da ACI deve ser um chamado à reconstrução de sua identidade institucional. O Ceará precisa de uma ACI que brilhe de novo — como farol do jornalismo, espaço de resistência democrática e casa de todos os que acreditam na força transformadora da palavra.