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A cadela grávida morta em Quixeramobim e a urgência de um debate sobre humanidade, justiça e políticas públicas

A dor que sentimos diante desse crime precisa se transformar em cobrança. Cobrança por leis mais firmes, por justiça efetiva, por investimento em abrigos, centros de zoonoses que funcionem, ações de castração, campanhas nas escolas e fiscalização de verdade

Foto: Divulgação

A morte brutal de uma cadela grávida em Quixeramobim choca. Revolta. Fere. E deve, acima de tudo, nos despertar para uma verdade difícil de engolir: a maldade humana tem ultrapassado limites inaceitáveis — muitas vezes diante da indiferença das autoridades e da sociedade.

Não se trata de um caso isolado. Quem caminha pelas ruas da cidade vê a cena repetida: cães e gatos abandonados, feridos, famintos, doentes. Alguns são ignorados, outros, alvo de crueldade. O episódio recente não apenas expôs a covardia de quem cometeu o ato, mas escancarou a falta de resposta das instituições. E isso é, por si só, um segundo crime — o da omissão.

Quixeramobim, assim como centenas de municípios pelo Brasil, precisa sair da inércia. A ausência de políticas públicas eficazes para os animais de rua é uma ferida aberta. Falta estrutura, faltam programas de castração, educação ambiental, campanhas de adoção, fiscalização contra maus-tratos e principalmente: vontade política.

A impunidade alimenta o ciclo. Maus-tratos a animais são crime previsto no artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998), com pena que pode chegar a cinco anos de prisão, além de multa. No entanto, na prática, raramente vemos condenações ou investigações sérias. Por quê? A resposta pode estar na falta de prioridade, na burocracia e, muitas vezes, no desprezo por vidas que “não falam”.

Mas é preciso dizer: a forma como tratamos os animais diz muito sobre quem somos como sociedade. A crueldade cometida contra uma cadela grávida deveria nos envergonhar. Nos tirar o sono. E nos mover.

Não é razoável que cidades cresçam sem políticas de proteção animal. É desumano que tantos cães e gatos vivam à própria sorte, reproduzindo-se sem controle, tornando-se alvo fácil da ignorância e da perversidade. E é inaceitável que os responsáveis por crimes como esse se escondam no anonimato, protegidos pela certeza de que “nada vai acontecer”.

Que tipo de sociedade estamos construindo, se conseguimos conviver com esse tipo de violência sem agir? Que humanidade é essa que olha para o sofrimento de um animal e o trata como “normal”? O que está falhando em nós?

A dor que sentimos diante desse crime precisa se transformar em cobrança. Cobrança por leis mais firmes, por justiça efetiva, por investimento em abrigos, centros de zoonoses que funcionem, ações de castração, campanhas nas escolas e fiscalização de verdade.

A comoção não pode morrer na próxima semana. O caso não pode virar estatística nem desabafo solto nas redes sociais. Ele precisa virar denúncia, política pública, mudança de postura. Porque a violência contra os animais é também um sintoma de um problema mais profundo: a perda da empatia.

E se não formos capazes de proteger os mais frágeis, o que nos resta de civilização?

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