Leorne Menescal Belém de Holanda, que acaba de nos deixar, era filho de Quixeramobim, conterrâneo, portanto, de Antônio Conselheiro.
Do grupo escolar de sua terra natal partiu para o Rio de Janeiro, onde foi aluno interno do tradicional Colégio Pedro II. Ali descobriu a vocação política, pois, cabra do interior do Ceará, liderou aquela malta de sulistas, se elegendo presidente do Grêmio do Pedro II.
Voltando ao Ceará foi aluno da Faculdade de Direito da UFC e, aqui também, líder estudantil, chegou à presidência do Centro Acadêmico Clóvis Beviláqua.
Boa voz e palavra fácil, sempre foi o orador escolhido para representar seus companheiros quando serviu o CPOR (orador oficial da turma Bernardo Sayão) e no curso jurídico (orador oficial da turma Farias Brito).
Foi radialista e, a partir do rádio, tornou-se figura pública, conseguindo se eleger para a Assembleia Legislativa do Ceará em 1970.
Duas vezes Deputado Estadual, candidatou-se à Câmara Federal, obtendo igualmente dois mandatos. Na Câmara dos Deputados foi presidente da importante comissão de Constituição e Justiça.
Abandonando as urnas, deu uma de primeira-dama: assumiu a presidência da Legião Brasileira de Assistência – L.B.A, função que, segundo os amigos, lhe caiu muito bem, porque tinha “um coração de mãe.”
Aposentado, apascentava bezerros e garrotes nas remansosas tardes de sua fazenda, em Quixeramobim, mas sabia muito bem alternar essa vida bucólica com o frenesi da cidade grande; e nessa, procurava a companhia dos amigos, com quem se comprazia trocando amenidades, enquanto bebericava uma caninha da Ibiapaba.
Inteligente bem informado, sabia, como ninguém, manejar a ironia sutil e dar um toque de humor à conversa, sem agredir, sem ferir, sem humilhar e, sobretudo, sem jactar-se de sua superioridade mental.
Era um gentleman. Um menino do sertão, que se fez nobre entre os aristocratas, sem relegar suas raízes rurais.
Grande companheiro, seu melhor amigo era Raul Fontenele, seu compadre (Velho amigo, compadre e correligionário” – como se saudavam), com ele viajou para a Europa na companhia das esposas Suely e Eremita. Viu esse amigo morrer estupidamente de uma doença que a medicina não soube identificar, perdendo uma parte enorme de seu latifúndio de alegria. Ficou triste. Não irremediavelmente riste. Aos poucos foi se recompondo, para conforto nosso que precisávamos de seu espírito forte e de seu jeito brilhante de ser.
Quando Leorne completou sessenta anos, fui convocado pelo amigo Raul para uma confraternização no Restaurante Mestre Pedro. Fui o primeiro a chegar e o aniversariante ali já se encontrava. Reclamei a presença do Raul. Explicou que se sentira mal. Estava com febre e uma crise de gastrite. Dias depois Leorne me avisava por telefone da gravidade da doença de nosso companheiro, que morreria alguns dias depois.
Leorne era um romântico e falava de sua Suely como de uma namorada recém conquistada.
Vivia lhe cobrando um livro, pois escrevia muito bem. Deveria conter crônicas, ensaios políticos, contos e, com certeza, alguns poemas na gaveta.
Uma tarde, quase o elegíamos Governador do Ceará, num daqueles momentos intensos de euforia etílica.
Ele, moderado, como sempre, apenas sorria, agradecendo a homenagem dos amigos.
Leorne Belém era uma unanimidade na benquerença de Fortaleza. O companheiro ideal. O boa-praça absoluto. Uma pessoa que fez bem ao mundo e de quem todos nós sentiremos e a falta.
O nobre Leorne Belém. O Lorde Belém.
Juarez Leitão
Academia Cearense de Letras e Instituto do Ceará