Pode não parecer, mas a escolha de Caucaia para receber um novo data center de grande porte tem explicação técnica e estratégica.
O Ceará vem se consolidando como um dos principais pontos de conexão de cabos submarinos de internet do Brasil, criando um ambiente favorável para investimentos em tecnologia e infraestrutura digital. Mais de 90% dos dados do Brasil passam por Fortaleza antes de serem distribuídas para outras regiões.
Além disso, o acesso à energia limpa, como a eólica, e a posição geográfica privilegiada, com menor risco de desastres naturais, reforçam o interesse das empresas. Mas há um ponto que passa quase despercebido nas discussões: o impacto ambiental.
Em um país onde a palavra “clima” sequer é citada explicitamente na Constituição Federal, ainda falta um debate mais claro sobre os efeitos que empreendimentos desse porte podem causar.
Data centers consomem muita energia e água para manter a refrigeração de servidores, e isso pode gerar pressão sobre os recursos naturais locais, especialmente em regiões que já enfrentam escassez hídrica, como o Nordeste.
O desafio agora é garantir que esse tipo de investimento traga desenvolvimento econômico sem agravar problemas ambientais. A chegada de um data center em Caucaia pode impulsionar a geração de empregos e estimular o avanço tecnológico, como estão comentando, mas precisa vir acompanhada de medidas de compensação e de um plano de sustentabilidade eficiente.
O risco é repetir o que já aconteceu em outras regiões do mundo, onde o crescimento rápido desses empreendimentos gerou sobrecarga nos sistemas de energia e água.
E nem precisamos ir tão longe. O Rio Grande do Sul é o terceiro estado brasileiro com maior número de data centers. Ele também ocupa a segunda posição no ranking de ocorrências de estiagens e secas no país, atrás somente da Bahia. Só em 2025, 307 municípios gaúchos decretaram situação de emergência devido à falta de chuvas.
Por isso, em vez de comemorar a chegada de um investimento bilionário, é importante acompanhar como será feita a gestão ambiental e social desse projeto.
O Ceará tem oportunidade de virar referência em infraestrutura digital sustentável, mas para isso será preciso cobrar responsabilidade ambiental e exigir políticas públicas que pensem o futuro de forma integrada.