O Ministério da Saúde anunciou a abertura de credenciamento para que hospitais, clínicas e empresas privadas de saúde possam prestar atendimentos especializados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A medida, segundo a pasta, visa acelerar o acesso da população a consultas, exames e cirurgias, reduzindo filas e o tempo de espera nos serviços públicos.
A iniciativa, no entanto, contrasta com a realidade de muitas instituições filantrópicas e públicas que hoje enfrentam sérias dificuldades financeiras e estruturais. Em diversos estados, hospitais como as Santas Casas de Misericórdia, historicamente parceiras do SUS, têm cancelado cirurgias eletivas por falta de recursos. Algumas unidades sequer conseguem manter o fornecimento de medicamentos básicos.
A crise no setor não é recente, mas se agravou com o aumento dos custos hospitalares, a defasagem na tabela de repasses do SUS e o atraso nos pagamentos. O resultado tem sido a sobrecarga dos profissionais, a precarização dos atendimentos e a perda da capacidade de resposta de muitos desses serviços que, mesmo sem fins lucrativos, atendem a maior parte da população carente.
A parceria com a rede privada, embora possa trazer alívio momentâneo às filas, levanta questionamentos: por que não investir com urgência na reestruturação dos hospitais públicos e filantrópicos já existentes? Por que destinar recursos a empresas privadas enquanto instituições centenárias, como as Santas Casas, agonizam?
Especialistas da área da saúde defendem que o fortalecimento do SUS passa, necessariamente, pela valorização da rede pública e filantrópica, que é quem mais conhece as demandas locais e mantém a missão de garantir atendimento universal e gratuito.
A abertura ao setor privado pode até ser um paliativo, mas sem um plano estruturado de investimento e valorização das unidades públicas e filantrópicas, o sistema pode seguir adoecendo — com impacto direto na vida dos brasileiros mais vulneráveis.