Home Fabrício Moreira da Costa A intuição contra as instituições: um perigoso precedente no Ceará

A intuição contra as instituições: um perigoso precedente no Ceará

Ao afirmar, sem citar nomes para defender seu aliado e tumultuar as águas já turvas, diz que cinco deputados federais do Ceará vendem emendas, o nosso talentoso Cid Gomes cria um perigoso precedente

Milito na advocacia há mais de 30 anos, principalmente na área criminal, onde o contraditório e a ampla defesa devem ser defendidos como um verso bonito e certeiro do poeta Patativa do Assaré.

Neste mesmo período, ou até por mais tempo, estou na vida pública. Já tive assento na Câmara de Vereadores, ocupei por duas vezes a vice-prefeitura de Icó e, como se diz no jargão popular, “bati na trave” para ser eleito prefeito da minha terra. Saí vencido, mas continuei, pois participo do processo por amor às boas causas.

Nestas décadas todas, já fui servidor público, secretário municipal nas mais importantes funções e presidi com zelo instituições democráticas nos âmbitos público e privado. E sei, logicamente, que exercer funções públicas tem seu preço: o do aplauso e do reconhecimento, mas também o do menosprezo, da perseguição e da agressão.

Há consequências boas e más. Entendo que isso faz parte do jogo e sei perfeitamente, como muitos, equilibrar o que é verdade e o que é mentira. Já fui perseguido, processado e maltratado, mas venci as adversidades, pois até os dias atuais não encontrei quem me fizesse desistir ou ter medo.

Porém, a vida pública hoje inspira cuidado, até pavor, a quem é do bem e tem vontade de contribuir. O ambiente se misturou com gente despreparada, que por vezes não sabe conjugar um verbo, não respeita o caminho da mais perfeita ordem legal, a liturgia do cargo, e relega ao esgoto, infelizmente, uma ciência tão bonita chamada política.

Diante das discussões horríveis que chocam a todos os cearenses, como democrata, lembro-me de Paes de Andrade, Tasso Jereissati, Ulysses Guimarães, Lúcio Alcântara, Mauro Benevides, Mário Covas, Leonel Brizola, Itamar Franco e Pedro Simon, citando alguns, de quem podíamos apertar as honradas e limpas mãos.

Pois bem. O Senador da República, Cid Gomes, e volto a repetir o melhor Governador que o Palácio da Abolição já teve para nós, icoenses, e quiçá para os cearenses como um todo, chocou a todos nós com sua nova tese de defesa. Ao utilizar o espaço democrático do Comitê de Imprensa da Assembleia Legislativa do Ceará na última quarta-feira, 16, ele desafiou a Imprensa, o Ministro do STF Gilmar Mendes, a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República (PGR) para defender seu indicado ao Senado pelo PSB.

Surge, assim, uma nova tese jurídica, talvez plagiando o ex-procurador Deltan Dallagnol, com uma revolucionária metodologia de investigação no Ceará: “Polícia Federal versos Sua Intuição”.

Não estou aqui para indiciar, denunciar ou condenar quem quer que seja. O que me preocupa é o exagero dos argumentos, que lançam dúvidas sobre as instituições. Ao afirmar, sem citar nomes para defender seu aliado e tumultuar as águas já turvas, diz que cinco deputados federais do Ceará vendem emendas, o nosso talentoso Cid Gomes cria um perigoso precedente.

Se porventura ficasse sem mandato em 2026, o que, sinceramente, não desejo, com tal ímpeto, poderia ser, doravante, Advogado de defesa e Promotor de Justiça ao mesmo tempo.

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