Home Wanderley Barbosa O Açude Cedro: um grito de socorro no sertão

O Açude Cedro: um grito de socorro no sertão

A omissão generalizada não é apenas administrativa; é uma falência cultural do poder público municipal, que demonstra profunda desconexão com sua própria história e identidade

Foto: Divulgação/DNOCS

A situação do Açude do Cedro é uma ferida aberta no coração do patrimônio histórico brasileiro e um retrato cruel da negligência institucional. Mais de meio século de abandono já havia reduzido essa joia da engenharia imperial a um estado lastimável, mas o fim do contrato de vigilância no último dia 30 de junho elevou o descaso a um patamar inaceitável. Abandonado à própria sorte, sem nenhuma segurança à noite, o maior patrimônio histórico de Quixadá e um dos mais significativos do Nordeste volta a ficar exposto a toda sorte de violências já registradas: assassinatos, depredações, pichações e invasões criminosas em seu entorno. O silêncio ensurdecedor das instituições responsáveis – IPHAN, DNOCS, Prefeitura de Quixadá, vereadores, deputados e lideranças locais – diante desse desmonte é uma traição à memória nacional e à população quixadaense. A imprensa, que deveria ser vigilante, também parece alheia ao drama do Cedro. A recente visita solitária do ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, ignorada pelas autoridades municipais, simboliza o abismo entre o poder público local e a magnitude do problema, desperdiçando uma oportunidade crucial de intervenção federal.

A omissão generalizada não é apenas administrativa; é uma falência cultural do poder público municipal, que demonstra profunda desconexão com sua própria história e identidade. A perda irreparável de outros prédios históricos em Quixadá é um prenúncio sombrio do que pode acontecer com o Cedro, agora literalmente entregue à deterioração e à ação predatória. A candidatura a Patrimônio Mundial da UNESCO torna essa negligência ainda mais trágica e escandalosa. Confiar a solução aos políticos locais já se mostrou uma ilusão perigosa, dada sua histórica incapacidade de compreender e valorizar este monumento. Neste momento crítico, a sociedade quixadaense deve unir-se e, como corretamente apontado, cobrar urgência do Ministério Público Federal. A retomada imediata da vigilância, conforme acordado na Ação Civil Pública em tramitação na 23ª Vara Federal, é o primeiro passo incontornável para evitar que o Açude do Cedro, símbolo de resistência e engenho, se transforme definitivamente em escombros e memória amarga. O tempo para agir é agora, antes que o silêncio das autoridades consuma mais um capítulo da nossa história.

ALÔ! ALÔ, MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL!

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