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Quem cuida está adoecendo: a verdade sobre a saúde que ninguém quer ouvir

A saúde, pública ou privada, está sustentada por pessoas exaustas, mal remuneradas e invisibilizadas. E a conta não fecha: como oferecer cuidado de qualidade com profissionais adoecidos?

Foto: Divulgação

Neste Dia Nacional da Saúde, celebramos algo essencial, mas esquecemos quem a torna possível. Por trás de cada atendimento, de cada cuidado prestado, existe um exército de trabalhadoras e trabalhadores invisíveis, adoecidos e desvalorizados.

A frase “cuidar de quem cuida” tem sido amplamente repetida. Mas entre o discurso e a realidade, há um abismo preenchido por exaustão, baixos salários e abandono institucional.

Falo de quem sustenta a saúde no Brasil: profissionais da enfermagem, agentes comunitários de saúde e de endemias, profissionais da saúde bucal, motoristas, recepcionistas, maqueiros, copeiras, servidores públicos, dentre outros. Falo de quem trabalha nos hospitais públicos, nas unidades privadas, nas cooperativas e nos serviços terceirizados. De quem não tem hora, mas carrega nas costas o funcionamento de um sistema inteiro.

No Ceará, esse colapso silencioso tem rosto e nome: servidores da saúde enfrentam anos de espera por direitos básicos, como as ascensões funcionais. Muitos processos estão travados, outros, simplesmente ignorados. A sobrecarga é visível: equipes reduzidas, profissionais acumulando funções e sendo esquecidos pela gestão. Em Fortaleza, a realidade também é grave: faltam profissionais, os salários estão defasados e o modelo de gestão tem levado os trabalhadores ao esgotamento. As “cooperativas”, travestidas de solução, escondem a precarização: jornadas abusivas, contratos frágeis, ausência de direitos e adoecimento crescente.

No setor privado, o cenário não é melhor. Empresários lucram alto enquanto profissionais enfrentam jornadas exaustivas, salários baixos e condições indignas. A lógica do lucro se impõe sobre o cuidado, deixando quem trabalha à mercê do cansaço e do esquecimento.

A saúde, pública ou privada, está sustentada por pessoas exaustas, mal remuneradas e invisibilizadas. E a conta não fecha: como oferecer cuidado de qualidade com profissionais adoecidos?

É urgente virar essa chave. O que precisamos é de uma política séria de valorização: concursos públicos, reajustes reais, condições dignas de trabalho, respeito aos direitos e o fim da precarização em todas as suas formas.

Neste 5 de agosto, mais do que celebrar, é preciso denunciar. Saúde de verdade só existe quando quem cuida também é cuidado. Ignorar isso é empurrar todo o sistema para o limite do colapso.

Que este seja um chamado à sociedade e aos gestores: ou cuidamos de quem cuida, ou seremos cúmplices da falência da saúde.

Martinha Brandão
Diretora do Sindsaúde Ceará

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