O trânsito brasileiro é, há décadas, um cenário de violência constante. Estatísticas alarmantes, que somam aproximadamente 50 mil mortes e 350 mil pessoas feridas ou mutiladas anualmente, pintam um quadro de tragédia diária que onera os cofres públicos e deixa um rastro de luto pelo país. Apesar da magnitude do problema, a pauta frequentemente parece negligenciada pelas autoridades, resumindo-se, na maioria das vezes, a campanhas pontuais durante o Maio Amarelo.
Em contraponto a essa realidade nacional, um exemplo de cidadania tem florescido nas ruas de Quixadá, no Sertão Central cearense. O que era uma exceção está virando regra: motoristas e motociclistas parando espontaneamente para dar preferência ao pedestre que pisa na faixa. A atitude, que já é comum em grandes metrópoles desenvolvidas do país, está se tornando parte do DNA do trânsito quixadaense, criando uma cultura local de respeito e segurança viária que serve de exemplo educativo até para os condutores que ainda não adotaram a prática.
“É impressionante. Você se aproxima da faixa, hesita, e o carro já vai parando. A moto também. Isso cria uma sensação de segurança e mostra um amadurecimento coletivo incrível. Estamos virando referência em educação no trânsito”, comenta o pedestre senhor Antônio Pedro com orgulho.
Os dois lados da moeda: avanços e desafios persistentes
Apesar do comportamento exemplar de muitos condutores, a cidade ainda tem um longo caminho pela frente para conquistar um trânsito plenamente organizado e legal. O elogiado respeito ao pedestre convive com problemas crônicos de infraestrutura e fiscalização.
Comerciantes, muitas vezes com a “vista grossa” da Diretoria Municipal de Trânsito (DMT), insistem em privatizar o espaço público. A prática ilegal de utilizar cones, cadeiras e outros objetos para reservar vagas de estacionamento em frente aos seus estabelecimentos é frequente e, segundo relatos, pouco combatida. A pergunta que fica é: por que essa conivência com uma prática tão claramente irregular e imoral?
Outra questão que preocupa é o modus operandi de algumas farmácias e comércios. Rebaixamentos de calçada para criar acesso irregular de veículos e a criação de estacionamentos restritos a clientes – uma afronta à lei – são problemas que se alastram e desorganizam o mobiliário urbano, privilegiando o interesse privado em detrimento do coletivo.
CDL tem papel indispensável no processo
Neste processo de aprendizagem e conscientização para implantar uma nova cultura comportamental, a CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Quixadá tem um papel fundamental e indispensável. São os seus associados, em grande parte, os responsáveis por essas infrações que causam transtornos e desorganizam o trânsito.
É preciso lembrar que a cidade é de todos. O espaço público não pode ser apropriado por alguns que se julgam no direito de privatizar as ruas e calçadas para benefício próprio. A mesma cidade que ensina, com gestos gentis, a respeitar o cidadão a pé, precisa aprender a combater com vigor aqueles que insistem em desrespeitar a lei e o direito de ir e vir de toda a população.
O exemplo positivo já foi dado pelos condutores. Agora, é a vez do poder público, por meio da DMT, e do setor empresarial, liderado pela CDL, fazerem a sua parte para que Quixadá seja, de fato, um exemplo completo de trânsito seguro, organizado e cidadão.