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Crime ambiental: Degradação ambiental em Quixadá, patrimônio natural urbano à beira do colapso

Enquanto a mobilização civil ainda é incipiente e as autoridades permanecem inativas, a pergunta que ecoa entre os que ainda se importam com o patrimônio natural do município é: “E agora, quem poderá nos defender?”

Foto: Wanderley Barbosa

A paisagem urbana de Quixadá, outrora marcada por formações naturais únicas e corpos d’água, vive uma crise ambiental silenciosa e progressiva. Espaços ecológicos com potencial para se tornarem parques urbanos – berços da flora e fauna local – estão sendo sistematicamente degradados, aterrados e poluídos, sem que o poder público tome medidas efetivas para sua proteção. A omissão municipal, segundo denúncias, ignora até mesmo recomendações do Ministério Público Estadual (MPCE). (Processo administrativo Nº 09.2014.00001909-8 // Recomendação Nº 0029/2020 / 4ª PMJQXD)

O cenário é de abandono. O Rio Sitiá, que corta a cidade, é citado por ambientalistas e moradores como um “paciente em estado terminal”. “O Rio Sitiá é um desses crimes ecológicos que as autoridades fecharam e continuam fechando os olhos. Hoje, ele se encontra todo invadido, aterrado, ou melhor, está na UTI”, desabafa um morador da região. O curso d’água, outrora vivo, sofre com ocupações irregulares e deposição de resíduos.

Outro exemplo emblemático é a Lagoa do Eurípedes, um cenário naturalmente adornado pelos famosos monólitos de Quixadá. O local, que poderia ser um cartão-postal de preservação e lazer, foi invadido e sofre com a poluição constante. “Há muito tempo esse espaço também foi invadido e continua sendo poluído. Ninguém tem feito nada para reverter isso”, lamenta uma estudante local.

Talvez o caso mais gritante seja o da Lagoa localizada na Avenida José Caetano. Diariamente, testemunha-se o seu aterramento progressivo para a expansão imobiliária. A situação é tão grave que o MPCE instaurou um processo e emitiu uma recomendação formal à Prefeitura Municipal de Quixadá, ordenando que a autarquia “não permita construção, faça a limpeza e, principalmente, não deixe que coloque aterro na citada lagoa”, entre outras recomendações.

Contudo, o que se vê na prática é o desrespeito à determinação do Ministério Público. Autarquia Municipal de Meio Ambiente (AMMA) é acusada de omissão ao ignorar as ações danosas e a recomendação do MPCE. “O que se vê é exatamente o contrário: a omissão da autarquia municipal de meio ambiente, que ignora totalmente o Ministério Público”, denuncia um representante de entidade civil que preferiu não se identificar.

A reportagem procurou falar com a superintendente da AMMA, Jesyca Severo, para se manifestarem sobre as denuncias, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. O  MPCE precisa URGENTE tomar as medidas previsto na lei dos crimes ambientais (Lei 9.605/98) pelo descumprimento de suas recomendações.

Além do poder público, a imprensa local também é cobrada. “A imprensa também tem sua culpa por não cobrar mais das autoridades, em nome da população, para se preservar o meio ambiente”, desabafou um professor aposentado morador da Av. José Caetano.

O temor é que o legado natural da cidade se perca para sempre. “As futuras gerações vão conhecer esses espaços ambientais apenas por fotografias e por ouvir contar que existiram rios e lagoas na cidade de Quixadá”, reflete a moradora Maria Silva.

Enquanto a mobilização civil ainda é incipiente e as autoridades permanecem inativas, a pergunta que ecoa entre os que ainda se importam com o patrimônio natural do município é: “E agora, quem poderá nos defender?”. Em um tom que mistura desespero e ironia, a célebre frase do seriado Chapolin – “Eu! Chapolin Colorado” – “Soa menos como uma solução e mais como um triste lembrete de que, na vida real, heróis não aparecem para salvar o dia, cabendo à sociedade e ao poder público a responsabilidade pela preservação”, brincou e desabafou um comerciante local.

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