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Pesquisador da UFC descobre em minerais de Quixeramobim característica inédita no mundo que pode influenciar novas tecnologias ópticas

Fenômeno óptico inédito, batizado de “mosaico”, foi identificado em cristais de Quixeramobim e pode abrir caminho para novas tecnologias e ampliar o entendimento da mineralogia moderna

Foto: Ribamar Neto/UFC

Um fenômeno óptico até então nunca registrado em nenhum mineral do mundo foi identificado em cristais coletados no Sertão Central cearense. A descoberta, considerada um dos avanços mais relevantes da mineralogia moderna, foi realizada pelo pesquisador Isaac Gomes de Oliveira, doutor em Geologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), utilizando um aparelho que ele próprio criou ainda na graduação para avaliação de gemas: o Polariscópio Gomes. As informações são do jornalista Sérgio Sousa, da Agência UFC.

A pesquisa foi conduzida em cristais de grossulária, mineral rico em cálcio e alumínio usado em joias, encontrados em Quixeramobim, no Sertão Central. Quando atravessados pela luz, os exemplares apresentaram características visuais inéditas, diferentes das 10 figuras de interferência conhecidas pela ciência há mais de 70 anos.

Segundo Isaac, “a descoberta da possível nova figura de interferência ‘mosaico’ nas grossulárias do Ceará representa um fenômeno sem precedentes na mineralogia. Pela primeira vez em cerca de 70 anos, observamos um fenômeno óptico que ainda não havia sido documentado: cristais com alto nível de ordem e desordem, causando uma sobreposição complexa de cores e padrões, algo que expande significativamente nosso entendimento da interação da luz com minerais”.

A figura de interferência “mosaico”

O efeito ocorre porque a luz se propaga em várias direções de vibração simultaneamente, criando uma combinação de cores como azul, amarelo e roxo em um padrão semelhante a mosaicos. O estudo, publicado em julho na revista American Mineralogist, confirma que os sete exemplares analisados apresentaram o mesmo comportamento, conferindo consistência científica ao achado.

Para Isaac, o novo padrão não é apenas esteticamente impactante, mas também um registro da história geológica: “É como se ele estivesse registrando a própria história da natureza em sua estrutura”.

Impacto científico e tecnológico

As implicações vão além do campo da geologia. A descoberta pode influenciar a gemologia, mineralogia óptica, cristalografia e física óptica, além de estimular novas tecnologias de base óptica.

“É um fenômeno óptico único, com implicações práticas imediatas e grande potencial para novas pesquisas, aplicações e para autenticação de gemas e minerais. É, possivelmente, uma das descobertas mais importantes da mineralogia moderna. Trata-se, portanto, de um avanço com relevância científica, prática e pedagógica, comparável em importância às grandes contribuições clássicas da mineralogia óptica do século XX”, reforça o pesquisador.

Importância para o Ceará e para o Brasil

A professora Tereza Neri, do Departamento de Geologia da UFC e parceira de pesquisa de Isaac desde a graduação, destaca a relevância da região: “O Ceará é uma das províncias gemológicas mais importantes do Brasil, com ocorrências de esmeralda, turmalina, água-marinha, espessartita, grossulária, ametista, entre outros minerais. Além disso, essas pesquisas contribuem tanto para a ciência quanto para a autonomia nacional na área de recursos estratégicos”.

Isaac explica que escolheu Quixeramobim pela riqueza mineralógica e qualidade gemológica: “Portanto, o estudo em Quixeramobim não é apenas regional. Ele contribui para caracterizar recursos minerais de alto valor científico e econômico, com impacto direto na autonomia nacional”.

As grossulárias da região, segundo ele, não são cristais uniformes, mas arranjos complexos de diferentes estruturas cristalinas que interagem e geram o efeito óptico raro: “Para ajudar a visualizar essa figura de interferência, imagine uma casa, uma grande casa. Cada cômodo dessa casa foi desenhado e arquitetado por um arquiteto diferente… Já no caso das grossulárias do Ceará, temos uma ‘casa’ totalmente atípica, onde cada cômodo é diferente”.

O Polariscópio Gomes

A descoberta só foi possível graças ao Polariscópio Gomes, patenteado pelo próprio Isaac. O instrumento é uma versão moderna do polariscópio tradicional, permitindo análises em gemas lapidadas sem a necessidade de destruição das amostras, diferentemente do microscópio petrográfico.

“Como os minerais utilizados nesta pesquisa, incluindo as grossulárias, são gemas, ou seja, não podem ser destruídas, as análises precisaram ser realizadas nas amostras lapidadas, em sua forma macroscópica”, explica Isaac.

Colaborações e próximos passos

O estudo contou com a colaboração dos professores Lucilene dos Santos (Geologia/UFC), Carlos William Paschoal (Física/UFC), da doutora Laryssa Carneiro (Unicamp) e do professor Lee Groat (University of British Columbia, Canadá).

Isaac projeta expandir as análises para minerais de outras regiões do Brasil e do mundo, investigando se a figura de interferência tipo mosaico também ocorre em outros contextos geológicos.

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