A postergação da primeira viagem da Transnordestina Logística, antes prevista para 24 de novembro entre o Piauí e o Ceará, evidencia um entrave burocrático que ainda afeta grandes obras no Brasil. As pendências com licenças do IBAMA adiaram o início simbólico de uma operação que representa muito mais do que o transporte de grãos. Trata-se da abertura de um novo ciclo econômico para o Nordeste. E o Ceará, especialmente o Sertão Central e Quixeramobim, está no centro dessa transformação.
Apesar do adiamento, o avanço da obra impressiona. A ferrovia já concluiu 676 quilômetros da linha principal e outros 280 quilômetros estão em execução, com previsão de chegada ao Porto do Pecém em 2027. Quando esse corredor logístico estiver completamente ativo, interligará áreas produtivas do Piauí e de Pernambuco ao maior hub portuário do Norte e Nordeste, formando um dos mais importantes eixos logísticos do país.
A primeira viagem, que sairia de Bela Vista no Piauí com destino a Iguatu no Ceará transportando farelo de milho, não ocorreu, mas seus números demonstram o impacto imediato para produtores e indústrias. O transporte de grãos que hoje chega a 220 reais por tonelada por rodovia pode cair para 80 reais via ferrovia. Uma redução drástica de custos e tempo, já que o percurso até Quixeramobim teria duração aproximada de 20 horas.
E é justamente neste ponto que surgem Quixeramobim e o Sertão Central como protagonistas de um novo capítulo. A Value Port já iniciou a supressão vegetal do futuro Terminal Multimodal e Multipropósito, o Porto Seco José Dias de Macedo, que poderá receber o primeiro trem a partir de julho de 2026. Se essa previsão se confirmar, o município estará conectado diretamente a um dos maiores projetos estruturantes do Brasil.
Esse terminal não será apenas um ponto de passagem. Ele se tornará um polo de distribuição, armazenamento, industrialização e exportação. As viagens semanais esperadas terão impacto direto nas empresas já instaladas, nos produtores rurais, nas novas indústrias previstas para a ZPE e para a CLI e em toda a cadeia produtiva do agronegócio, da logística e da indústria de transformação.
O impacto será em cadeia. Onde a ferrovia chega, empregos são gerados, investimentos são atraídos e novos arranjos produtivos começam a se formar. No contexto do Ceará, isso significa descentralizar a economia, tradicionalmente concentrada na região metropolitana, e levar desenvolvimento sustentável ao interior.
O Sertão Central, reconhecido pela força cultural, pela capacidade de trabalho e pelo potencial agrícola, passa a reunir condições reais para atrair investimentos de médio e grande porte. Quixeramobim assume o papel estratégico de ligação regional, conectado ao Porto do Pecém e ao interior do Piauí.
É um momento transformador. Não apenas pela ferrovia, mas pela mudança de visão que ela exige. Municípios precisam se unir. Empresas precisam se preparar. A gestão pública precisa planejar e qualificar mão de obra. A Transnordestina e o Porto Seco José Dias de Macedo só alcançarão todo o seu potencial se houver integração regional, algo que o Sertão Central tem mostrado capacidade de construir.
O que se vislumbra é um ciclo econômico capaz de gerar emprego, renda, inovação e competitividade. Um ciclo que reposiciona o Ceará no mapa nacional da logística e coloca Quixeramobim entre os novos polos de desenvolvimento do futuro.
Quixeramobim incentivar, inovar e prosperar. O Sertão Central nunca esteve tão perto de um salto histórico. E o Nordeste, mais uma vez, se reinventa.
