O recente debate sobre a redução de tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil reacendeu uma reflexão necessária sobre a forma como parte da imprensa nacional interpreta e, muitas vezes, precipita determinados acontecimentos internacionais. Entre as vozes que trouxeram lucidez ao debate está a do ex-governador Lúcio Alcântara, cuja análise mantém uma coerência rara no cenário político atual.
Logo após o anúncio da Casa Branca sobre a diminuição das tarifas de produtos brasileiros, veículos de comunicação nacionais passaram a retratar a medida como uma grande conquista da diplomacia do Brasil. Era, segundo manchetes apressadas, uma vitória sobre o rigor fiscal norte-americano. No entanto, a realidade era outra, como rapidamente pontuou Lúcio Alcântara ao ecoar a apuração precisa da correspondente da CNN nos Estados Unidos.
A decisão, na verdade, foi tomada pelo presidente Donald Trump sob pressão da própria sociedade americana, insatisfeita com o aumento no custo de itens tão cotidianos quanto café e suco de laranja. Mesmo assim, como observou Alcântara, o corte foi modesto: reduziu-se apenas 10% de um total de 50%, mantendo uma sobrecarga tarifária de 40% sobre produtos brasileiros. Além disso, países que não enfrentam qualquer sobretaxa seguirão competindo em posição mais favorável que o Brasil.
Enquanto parte da imprensa celebrava, empresários mostravam cautela e especialistas consultados soavam mais reticentes que entusiasmados. A euforia se dissipou rapidamente, dando lugar à dúvida, movimento que confirma o velho ditado “o apressado come cru.”
Alcântara também destacou a frieza da reunião entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário americano Marco Rubio, apontada pelo jornalista Lourival Santana. Nada na postura diplomática americana indicava que o Brasil tivesse alcançado alguma vitória expressiva. Nem mesmo a elegância sempre presente do vice-presidente Geraldo Alckmin pôde transformar o anúncio em algo maior do que realmente foi.
A força do texto de Lúcio Alcântara reside justamente aí: na persistente coerência, no hábito de observar os fatos com distanciamento, clareza e responsabilidade. Em tempos de análises impulsivas, sua leitura madura do episódio devolve ao debate público a sobriedade necessária.
Mais do que comentar a política externa, Alcântara nos lembra que, antes de transformar cada movimento internacional em espetáculo, é preciso compreender seus fundamentos e reconhecer que nem todo gesto diplomático é conquista, nem toda redução é avanço.
Os próximos capítulos dirão se Trump oferecerá ao Brasil outro “presente grego”. Até lá, o alerta de Lúcio Alcântara permanece como um convite à cautela e ao bom senso.




