Home Poema O Outro Velho — Jamais Eu

O Outro Velho — Jamais Eu

Kleber Mineiro traz um poema que revela, com leveza, o encontro inevitável com nós mesmos e com o tempo

Foto: Freepik

O velho, dizem,
é sempre o outro.
Aquele que esquece a chave,
que reclama do preço da carne
e do calor que não perdoa.
Eu?
Sigo intacto na minha ficção particular,
embalado numa juventude que juro que ainda me serve.

O velho é sempre o vizinho,
o homem da fila do banco,
o tio do grupo da família
pedindo para aumentar a letra do celular.
Eu só ajusto a fonte por conforto,
entende?
Conforto não tem idade,
pelo menos é o que repito até acreditar.

O velho anda mais devagar,
respira mais fundo,
escolhe melhor as batalhas.
Eu não:
apenas aprendi a pensar antes de agir…
o que, visto de longe,
é quase a mesma coisa,
mas não espalhe.
Ainda cultivo o mito de que corro,
mesmo quando caminho
com poesia nos joelhos.

A vida segue me oferecendo espelhos,
um mais sincero que o outro.
Eu desvio quando posso,
quando não posso, sorrio.
Descobri que as rugas
são apenas vírgulas do tempo,
e que alguns cabelos brancos
brilham mais que certas arrogâncias juvenis.

No fim, talvez o velho
seja sempre o outro,
até que um dia
a gente se encontre consigo mesmo
num reflexo distraído
e perceba que envelhecer
é só continuar —
com humor,
com leveza,
com esse charme involuntário
que só o tempo sabe lapidar.

akam.

Kleber Mineiro

não houve comentários

Deixe seu comentário:

Please enter your comment!
Please enter your name here

Sair da versão mobile