Em Quixeramobim, uma prática recorrente e já naturalizada tem causado transtornos diários a quem circula a pé pela cidade: a ocupação irregular de calçadas por estabelecimentos comerciais e por ações que desconsideram o uso coletivo do espaço público. Cadeiras, mesas, expositores, placas, materiais de propaganda e até grandes balões infláveis acabam tomando áreas que deveriam garantir passagem segura aos pedestres.
O que pode parecer um detalhe para alguns se transforma em um problema sério para muitos. Ao ter a calçada bloqueada, o pedestre é forçado a caminhar pela rua, dividindo espaço com carros e motos, se expondo a riscos desnecessários. A situação se agrava quando somada a obstáculos fixos, como postes mal posicionados, que reduzem ainda mais o espaço de circulação e evidenciam a falta de planejamento histórico em algumas vias da cidade.
Mais do que uma discussão sobre comércio ou fiscalização, o problema revela algo ainda mais profundo: a falta de sensibilidade e de noção coletiva. A calçada não é extensão da loja, do bar ou da vitrine. Ela é um espaço público, pensado para garantir o direito básico de ir e vir. Quando alguém se apropria desse espaço sem critério, ignora que ali passam idosos, pessoas com deficiência, mães com carrinhos de bebê, trabalhadores apressados e cidadãos que apenas querem chegar ao seu destino com segurança.
Para quem não enfrenta limitações de mobilidade, desviar pode parecer simples. Para outros, é impossível. Uma calçada obstruída pode significar isolamento, risco de queda, exposição ao trânsito ou até a desistência do percurso. São essas pessoas que mais sofrem e que, muitas vezes, seguem invisibilizadas no debate urbano.
É inegável a importância do comércio para a economia local. Empreender, vender e divulgar produtos faz parte da dinâmica da cidade. No entanto, isso não pode ocorrer à custa do direito coletivo. Desenvolvimento não se mede apenas pelo movimento das vitrines, mas também pela capacidade de convivência, respeito e empatia entre quem compartilha o mesmo espaço urbano.
Antes mesmo de cobrar ações mais duras do poder público, é preciso olhar para dentro. Falta, em muitos casos, bom senso, consciência cidadã e responsabilidade social. Não se trata apenas de lei ou fiscalização, mas de entender que viver em sociedade exige limites. O espaço que é de todos não pode ser usado como se fosse de ninguém.
A discussão sobre calçadas é, na essência, uma reflexão sobre o tipo de cidade que se quer construir. Uma cidade pensada para pessoas, acessível, segura e humana começa pelo respeito ao básico. Calçadas livres não são privilégio. São direito.
O debate está lançado. Mais do que apontar culpados, é hora de repensar atitudes, exercitar a empatia e compreender que cidade acessível também é cidadania em prática, todos os dias, em cada passo dado.




