Home Educação Violência nas escolas brasileiras dispara em uma década e atinge recorde

Violência nas escolas brasileiras dispara em uma década e atinge recorde

Dados divulgados pela Fapesp revelam que, entre 2013 e 2023, o número de episódios violentos nesse contexto mais do que triplicou

Foto: CherriesJD/iStock

O ambiente escolar, que deveria ser sinônimo de aprendizado e acolhimento, tem se tornado palco de uma crescente onda de violência no Brasil. Dados divulgados pela Fapesp revelam que, entre 2013 e 2023, o número de episódios violentos nesse contexto mais do que triplicou. Em 2023, o país registrou 13,1 mil atendimentos médicos relacionados a automutilações, tentativas de suicídio e agressões físicas ou psicológicas ocorridas em instituições de ensino — um salto expressivo em relação aos 3,7 mil casos registrados dez anos antes.

Os números alarmantes foram levantados a partir de atendimentos realizados tanto na rede pública quanto na privada de saúde e têm como fonte o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). O pico verificado em 2023 é resultado de uma combinação de fatores estruturais, sociais e culturais que têm impactado diretamente o cotidiano de estudantes, professores e demais profissionais da educação.

Os rostos da violência escolar

O Ministério da Educação (MEC) classifica a violência nas escolas em quatro grandes categorias:

  • Ataques extremos: como o caso que chocou o país em 2023, quando uma creche em Blumenau (SC) foi invadida, resultando na morte de quatro crianças;
  • Violência interpessoal: conflitos e atitudes hostis entre alunos, professores e demais membros da comunidade escolar;
  • Bullying: intimidações constantes de ordem física, verbal ou psicológica;
  • Violência no entorno: situações de risco nos arredores das escolas, como tráfico de drogas, tiroteios e furtos.
O que está por trás desse aumento?

Pesquisadores apontam múltiplas causas para o crescimento da violência escolar, especialmente entre 2022 e 2023. Entre elas, estão:

  • A desvalorização crescente dos profissionais da educação;
  • A normalização e disseminação de discursos de ódio, especialmente em ambientes digitais;
  • A precariedade da infraestrutura das escolas públicas;
  • A influência de experiências traumáticas vividas ou testemunhadas pelos alunos dentro de casa;
  • A falta de políticas eficazes de mediação de conflitos;
  • O despreparo das secretarias estaduais para lidar com temas como racismo e misoginia.

Além disso, o avanço de grupos virtuais com conteúdo destrutivo, como fóruns que romantizam a dor e o ódio, também contribui para agravar o cenário, principalmente entre adolescentes. Parte do aumento nos registros, por outro lado, se deve à melhoria nos sistemas de notificação de casos nos serviços de saúde.

Caminhos possíveis para enfrentar o problema

A resposta à violência nas escolas exige mais do que ações pontuais. Especialistas ouvidos pela Fapesp defendem medidas estruturais, com foco na transformação da cultura escolar e no fortalecimento de redes de apoio. Entre as soluções sugeridas estão:

  • Criação de políticas públicas integradas entre educação, saúde, justiça e assistência social;
  • Fortalecimento da gestão escolar com diversidade e representatividade;
  • Incentivo à atuação dos conselhos tutelares, especialmente em escolas privadas, onde esse recurso é subutilizado;
  • Substituição de projetos isolados por uma abordagem contínua e intersetorial que envolva toda a comunidade escolar.

A violência nas escolas é reflexo de um adoecimento coletivo que precisa ser enfrentado com seriedade, empatia e responsabilidade. A escola deve ser um espaço seguro, e garantir isso é dever de todos — do poder público às famílias.

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