A cúpula do Partido dos Trabalhadores (PT) considera que a derrubada do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no Congresso Nacional foi uma ofensiva articulada pelos presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União-AP), com o objetivo de enfraquecer o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dificultar sua reeleição em 2026.
Nos bastidores, lideranças petistas afirmam que o episódio foi uma ruptura inédita nas relações entre os Poderes. Para o partido, a forma como a medida foi barrada, sem diálogo prévio e com impacto direto em programas sociais e políticas públicas, evidencia um movimento deliberado para constranger o Executivo. O IOF é uma fonte de arrecadação importante, e o reajuste havia sido proposto pelo governo para equilibrar as contas diante de despesas crescentes.
Segundo integrantes da legenda, a explicação extraoficial de que Alcolumbre teria articulado a derrubada para pressionar Lula a demitir o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em razão de disputas por cargos em agências reguladoras, não convence e tampouco justifica o que classificam como uma “quebra de acordo” institucional. O gesto é visto como um sinal de que o Planalto precisa endurecer sua postura diante do Congresso.
Irritado com o episódio, Lula autorizou o partido a atuar em duas frentes: judicializar a questão, por entender que a decisão do Congresso fere prerrogativas do Executivo, e mobilizar a base aliada para retomar o debate de temas que estavam previstos na medida provisória que tratava do IOF.
Entre os assuntos que devem ganhar destaque na nova estratégia estão a taxação de super-ricos, o aumento da tributação das casas de apostas (bets) e o impacto dos subsídios na conta de energia elétrica, itens que o PT avalia como de alto apelo popular. A ideia é reforçar a narrativa de que o governo está do lado da maioria e que o Congresso, liderado por figuras do centrão, atua em defesa de interesses corporativos e econômicos.
Para o PT, permitir que o Congresso derrube o reajuste do IOF sem contestação seria abrir precedente para que o Legislativo invadisse competências do Executivo. “Se recuássemos agora, o próximo passo seria o Congresso querer governar no lugar do presidente”, afirmou um interlocutor próximo ao Palácio do Planalto.