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A marca indelével de Dom Adelio Tomasin: uma reflexão sobre gratidão e memória em Quixadá

É pungente, verdadeiramente pungente, constatar que, passados quase doze meses desde sua partida, não se vislumbra um movimento robusto, uma grande homenagem que ecoe através dos tempos, capaz de imortalizar a dimensão de sua passagem entre nós

Foto: Divulgação

O Sertão Central, com sua luz implacável e sua resiliência tecida no couro, viu florescer, vindo de terras distantes, uma figura extraordinária: Dom Adelio Tomasin. Sua “páscoa”, ocorrida há quase um ano, não foi apenas a partida de um bispo, mas o repouso de um verdadeiro arquiteto social, o maior benfeitor que a ” terra dos Monólitos ” já conheceu. E diante do silêncio que parece pairar sobre a magnitude de sua obra, urge uma reflexão profunda sobre gratidão, memória e o dever de imortalizar gigantes.

Dom Adelio não se limitou ao púlpito. Seu olhar, aguçado pela fé e pela compaixão, enxergou as necessidades fundamentais de Quixadá e do Sertão Central, traduzindo-as em obras concretas que tocaram cada vértice da vida comunitária:

  1. Alicerces do Saber: Ao erguer as faculdades UNICATÓLICA, CISNE e a FADAT, ele não construiu meros prédios; semeou oportunidades. Plantou no solo árido do sertão a semente do ensino superior, abrindo caminhos que antes pareciam intransponíveis para a juventude quixadaense e do Sertão Central.
  2. Bastião da Vida: O Hospital e Maternidade Jesus Maria José transcende a obra física. É um santuário de esperança, cuidado e acolhimento, onde incontáveis vidas foram salvas e novas vidas recebidas com dignidade. Um testamento perene de seu compromisso com o mais básico direito humano: a saúde.
  3. Voz e Abrigo: A Rádio Cultura FM levou informação, formação e lazer aos lares. O Remanso da Paz ofereceu refúgio e dignidade aos idosos, inclusive sendo sua própria morada final. A Creche Rainha da Paz, fruto de sua visão e parcerias, acolheu centenas de crianças carentes, nutrindo-as física e espiritualmente. E para os perdidos no labirinto das drogas, surgiu o Novos Horizontes, uma nova chance escrita em tijolos e esperança.
  4. Fé e Formação: A modernização do Seminário Diocesano e a construção do majestoso Santuário Nossa Senhora Imaculada Rainha do Sertão não foram apenas investimentos na igreja, mas no coração espiritual da região. São espaços que elevam a alma e formam os continuadores da missão.

É pungente, verdadeiramente pungente, constatar que, passados quase doze meses desde sua partida, não se vislumbra um movimento robusto, uma grande homenagem que ecoe através dos tempos, capaz de imortalizar a dimensão de sua passagem entre nós. Onde está o clamor público? Onde estão as iniciativas monumentais que condizem com a monumentalidade de sua obra? Parece pairar uma perigosa quietude, um risco de que a poeira do cotidiano comece a encobrir o brilho de seu legado.

Esta aparente indiferença é uma ferida na memória coletiva. Dom Adelio não foi um estrangeiro de passagem. Ele escolheu Quixadá. Amou esta terra como sua, trabalhou por ela com suor e lágrimas, e aqui, por sua própria vontade, descansa eternamente, sepultado no solo do santuário que ergueu – uma de suas obras-primas. Ele se tornou filho adotivo do Sertão, e o Sertão deve reconhecê-lo como um de seus pais mais ilustres.

A pergunta ecoa com justiça e urgência: ” Não vamos fazer nada? “ A resposta não pode ser o silêncio. A resposta deve ser ação, gratidão transformada em memorial.

  • Um Nome que Ressoe: Que ruas, avenidas, praças ou, mais significativamente, um complexo educacional ou cultural, carreguem o nome de Dom Adelio Tomasin. Que cada menção seja um lembrete.
  • Um Memorial Vivo: Um espaço dedicado – museu, centro cultural ou memorial dentro do Santuário ou Seminário – que preserve sua história, seus escritos, as fotos que contam a saga de suas obras, os testemunhos de vidas transformadas. Um lugar onde as novas gerações possam tocar sua história.
  • A Data que Unifica: Uma data anual, próxima ao dia de sua partida, dedicada a celebrar sua vida e obra, com eventos culturais, religiosos e sociais que revisitam seu legado e reafirmam os valores que defendeu.
  • A Educação como Herdeira: Incorporar sua história e seus valores no currículo das escolas e universidades que ele mesmo fundou. Que os alunos saibam por quem e por que aquelas instituições existem.

Dom Adelio Tomasin foi  o responsável pela ” redenção ” de Quixadá e contribuiu para o crescimento do Sertão Central. Redenção no sentido mais amplo: libertação da ignorância pela educação, do desamparo pela saúde e assistência, da desesperança pela fé e pela ação concreta. Esquecer tal benfeitor não é apenas ingratidão; é uma amnésia coletiva que empobrece a identidade da região.

Quixadaenses, sertanejos: a hora é agora. Não deixemos que a passagem do tempo apague a pegada deste gigante. Transformemos nossa saudade e nossa gratidão em monumentos vivos, em nomes inscritos na paisagem, em memórias ativamente cultivadas. Dom Adelio deu tudo por esta terra. É nosso dever sagrado garantir que seu nome, sua face e, acima de tudo, o espírito de sua obra transformadora, ressoem para sempre nos quatro cantos de Quixadá e do Sertão Central. Que sua memória seja eterna, não apenas no silêncio das preces, mas no barulho da ação e no mármore da história local. Vamos fazer jus ao seu legado. Vamos imortalizar Dom Adelio Tomasin.

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