Home 1 Minuto com Sérgio Machado A igreja, a política e o chamado à unidade

A igreja, a política e o chamado à unidade

A Missa é um espaço sagrado, destinado ao encontro com Deus, à convivência comunitária e à serenidade espiritual. Quando esse ambiente se transforma em palco de disputas eleitorais, perde-se o foco essencial que sustenta a experiência religiosa

Foto: Izabella Ferreira

A partir de dezembro, a Igreja de Fátima, em Fortaleza, anunciou que não permitirá mais o registro de intenções de Missa direcionadas a figuras políticas. A decisão foi divulgada nas redes sociais e comentada pelo pároco, Padre Ivan de Souza, que resumiu tudo em uma frase que ecoou com força: “A Igreja é para unir”. Em tempos de tantos ruídos, essa afirmação revela muito mais do que parece.

A medida reacende um debate urgente sobre o papel da fé em momentos de tensão pública. A Missa é um espaço sagrado, destinado ao encontro com Deus, à convivência comunitária e à serenidade espiritual. Quando esse ambiente se transforma em palco de disputas eleitorais, perde-se o foco essencial que sustenta a experiência religiosa. O sagrado não nasceu para ser um instrumento de promoção política nem para refletir as divisões que já sufocam as famílias, as ruas e as redes sociais.

A decisão da paróquia também funciona como convite a voltar ao essencial. Em meio a discursos inflamados, interesses partidários e opiniões que se chocam, a espiritualidade lembra que Deus não se reduz a bandeiras, campanhas ou conveniências. Deus é ponto de encontro. É fonte de equilíbrio quando a vaidade contamina o debate. É presença de paz quando as palavras se tornam armas. É Ele quem cura os desencontros políticos que tantas vezes afastam pessoas que deveriam caminhar juntas.

Vivemos um período em que a política tem dividido amigos, famílias e comunidades inteiras. Justamente por isso, a fé permanece como ponte. Ela ajuda a devolver a humanidade aos diálogos, a suavizar o olhar sobre o outro, a lembrar que nenhuma opinião deve valer mais que o respeito e que nenhuma disputa deve apagar a caridade. Quando a Igreja decide proteger o altar de interferências partidárias, ela não está negando a importância da cidadania. Está apenas protegendo o que é sagrado e mantendo vivo o espaço onde todos devem caber, pensem como pensarem.

As opiniões sobre esse tema são amplas, diversas e muito ricas. Há quem veja a decisão como um gesto de coragem e equilíbrio espiritual. Há também quem entenda a medida como necessária para preservar a neutralidade da fé em um período de grande polarização. O importante é que o debate sobre o assunto ocorra com maturidade, serenidade e respeito, sem transformar divergências políticas em motivo para afastamentos.

Ao final de tudo, talvez a grande mensagem que essa decisão transmite seja um convite à reflexão. Um chamado à calma. Uma lembrança de que a espiritualidade precisa de silêncio, de equilíbrio e de foco. Quando as bandeiras se recolhem e os discursos cessam, o que permanece é o que realmente importa: a busca por sentido, por paz e pela presença de Deus mesmo quando as opiniões divergem. A Igreja tenta preservar exatamente isso. Unidade, simplicidade e o silêncio necessário para ouvir o que realmente transforma.

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