O Dezembro Verde chega como um chamado urgente para enfrentar um problema que cresce de forma preocupante no fim do ano: o abandono e os maus-tratos de animais. O período natalino e de férias costuma registrar aumento significativo no número de cães e gatos deixados nas ruas, entregues a abrigos já sobrecarregados ou vítimas de violência. A campanha busca conscientizar, mobilizar e provocar reflexão sobre um tema que é jurídico, social e moral.
Criado para estimular ações de prevenção e educação, o Dezembro Verde foi pensado para dezembro porque este é o mês em que o abandono costuma aumentar por motivos que vão desde viagens e mudanças na rotina das famílias até presentes de Natal dados de maneira impulsiva, sem compromisso real com a responsabilidade de cuidar de um animal por muitos anos. Iniciativas públicas e projetos de lei espalhados pelo país vêm reforçando o mês como marco oficial de mobilização pela proteção animal.
Estudos e levantamentos realizados por instituições e entidades de proteção revelam números alarmantes. Estima-se que o Brasil tenha dezenas de milhões de animais em situação de vulnerabilidade, enquanto milhares estão sob os cuidados de ONGs e protetores independentes que atuam no limite de suas capacidades. Esses dados evidenciam a urgência de políticas públicas permanentes, ações integradas e participação comunitária.
O abandono e os maus-tratos são crimes previstos na legislação federal. A Lei de Crimes Ambientais, no artigo 32, define como crime qualquer ato de abuso, maus-tratos, ferimento ou mutilação contra animais. Mesmo com a lei, a punição ainda depende de denúncias registradas, investigação ágil e articulação entre os órgãos públicos responsáveis. A população tem papel essencial, seja denunciando, seja apoiando iniciativas de prevenção.
O fim do ano intensifica o problema. Animais adotados por impulso, presentes oferecidos sem reflexão e viagens sem planejamento resultam em números maiores de abandono. Consequentemente, aumenta a superlotação nos abrigos e cresce a demanda por resgates, alimentação, atendimento veterinário e acolhimento. Por isso, o Dezembro Verde incentiva ações de conscientização, campanhas de adoção responsável e apoio direto às instituições de proteção animal.
O trabalho é compartilhado entre poder público, terceiro setor e imprensa. Prefeituras podem oferecer campanhas educativas, ampliar programas de castração e vacinação, abrir canais de denúncia e criar parcerias com ONGs. As organizações e protetores realizam resgates, acolhimento e reabilitação, mas dependem quase exclusivamente de doações. A imprensa tem papel fundamental na divulgação de casos, na orientação à população e na promoção de campanhas que fortalecem a cultura da responsabilidade.
A denúncia é um dos pilares da prevenção. Em casos de maus-tratos ou abandono, a orientação é registrar Boletim de Ocorrência em delegacias, acionar o Ministério Público quando necessário e utilizar canais municipais voltados à proteção animal. Fotos, vídeos e informações detalhadas podem auxiliar na responsabilização. A própria comunidade, ao se envolver, ajuda a salvar vidas e a fortalecer a vigilância social.
O debate sobre abandono de animais ultrapassa a questão afetiva e revela aspectos estruturais da sociedade. A falta de educação para a guarda responsável, a ausência de políticas públicas consistentes, a adoção por impulso e a carência de fiscalização do comércio de animais estão entre os fatores que agravam o problema. Proteger animais significa, também, refletir sobre cidadania, empatia e responsabilidade coletiva.
O Dezembro Verde reforça caminhos possíveis para reduzir o abandono: ampliar castrações públicas e acessíveis, promover educação ambiental e cidadã durante todo o ano, incentivar a adoção responsável, fortalecer financeiramente ONGs e protetores, aprimorar a investigação de denúncias e aproximar os órgãos públicos da sociedade civil. Esses passos transformam boas intenções em ações reais.
Ao encerrar o ano, o Dezembro Verde nos convida a olhar para a vida animal com mais consciência. Abandonar um animal é renunciar à responsabilidade assumida no momento da adoção. Respeitá-los exige compromisso permanente, empatia cotidiana e políticas que funcionem. Para os leitores do Repórter Ceará, a reflexão é clara: informar, denunciar, apoiar e agir são atitudes que salvam vidas e constroem uma cultura de proteção que precisa avançar para muito além de dezembro.




