A vida das pessoas com deficiência visual exige dois sentidos bem apurados: audição e tato. No entanto, pensando em maximizar esse universo, uma dupla de alunos da rede pública de ensino desenvolveu projeto que promete dar maior segurança na mobilidade dos cegos.
Os jovens Ricardo Soares Santos e João Vitor de Lima, estudantes da Escola Estadual de Educação Profissional Lucas Emmanuel Lima Pinheiro, de Iguatu, na região Centro-Sul do Estado, criaram um boné sensorial que identifica objetos que estejam à altura da cabeça, dificilmente identificados pela bengala tradicional. “Queremos ampliar a inclusão social de pessoas portadoras de deficiências visuais”, ressaltou Vitor.
Acessibilidade
O projeto, denominado “Os olhos da inclusão”, surgiu da discussão sobre o tema acessibilidade, durante uma aula da disciplina Eletrônica de Potência, ministrada pelos professores Damião Freire e Jardel da Silva. “Sentimos a necessidade de provocar os alunos quanto ao auxílio da tecnologia em prol de causas sociais. Diante das nossas conversas, eles (Ricardo e Vitor) trouxeram essa proposta de criar o boné”, conta Jardel. Além de desenvolverem o boné sensorial, os dois estudantes do curso técnico em eletrotécnica aprimoram um projeto já existente, a bengala sensorial.
O bom e velho acessório, indispensável na vida dos deficientes visuais, recebeu nova roupagem. “Através de sensores instalados nas extremidades, a bengala detecta o ambiente e emite sinais sonoros que são transformados em vibração, para atender deficientes auditivos”, detalha Vitor.
A manete vibratória, junto ao apito sonoro, atua, conforme explica Ricardo, como sentido complementar ao portador da deficiência.
O boné sensorial surge como um complemento desta inovação. Ele identifica objetos e obstáculos que estejam em uma altura além da bengala. “Nosso objetivo é ampliar a expansão social dessas pessoas. Queremos dar segurança aos deficientes para além do tradicional, já garantido através da bengala. Com o boné, contemplamos também a cobertura aos objetos aéreos”, pontua o estudante.
Já desenvolvida por outros estudantes, a bengala sensorial dos alunos iguatuenses tem como diferencial o baixo custo de criação. Para as bengalas produzidas fora do País, o valor de mercado supera a ordem de R$ 10 mil. A proposta cearense, no entanto, de acordo com o professor Damião Freire, era criar “algo com custo quase zero”.
Material reciclado
Para isso, explica o docente, foram utilizados materiais reaproveitados. “Cerca de 90% do material é reciclável. Um cano serve como base da bengala e os sensores, instalados no boné e na bengala custam menos de R$ 10”, complementa Vitor. Para recarregar, os criadores do projeto instalaram uma placa solar, que garante a autonomia do protótipo sem necessidade de recargas elétricas ou por meio de baterias.
O protótipo, que ainda está em fase de desenvolvimento e aperfeiçoamento, já teve sua relevância social reconhecida. Recentemente o projeto “Os olhos da inclusão” foi premiado durante a fase regional do Ceará Científico, na categoria robótica educacional e automações, promovido pela Secretaria de Educação do Ceará. De acordo com Ricardo Soares, os sensores instalados no boné serão adaptados para outros objetos.
“Algumas pessoas não se sentem à vontade para utilizarem boné. Questão de gosto e temos que, além de respeitar, buscar alternativas. Por isso, vamos adaptar os sensores para serem utilizados também em óculos ou até mesmo em camisas”, detalha o jovem.
Repórter Ceará com informações do Diário do Nordeste