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Editorial: O jogo político por trás da polêmica envolvendo o vereador Célio Neto

Como nem só de requerimentos vive um parlamentar, o vereador Célio Neto, novato na Câmara Municipal de Quixeramobim, se viu arrastado recentemente para o centro de uma polêmica sobre prostituição. De acordo com informações veiculadas por setores da imprensa local, o vereador estaria utilizando recursos próprios para patrocinar um evento em comemoração ao aniversário de funcionamento de um prostíbulo.

Filiado ao Partido da República (PR), o empresário quixeramobinense conseguiu um assento na Câmara após angariar 733 votos no último pleito eleitoral. De fevereiro – quando a legislatura teve início – até este mês de outubro, o vereador apresentou um total de 23 requerimentos, por meio dos quais solicitou serviços como a colocação de iluminação pública, recuperação de calçamentos danificados e o conserto de esgotos em bairros periféricos da cidade.

Na última sessão legislativa realizada há uma semana, Célio Neto denunciou que, mesmo tendo a prefeitura recebido os repasses do governo federal, alguns medicamentos estavam em falta nos postos de saúde do município. O vereador também chamou a atenção para as recentes contratações de novos servidores públicos enquanto outros, sob alegação da necessidade de cortes de despesas, estariam sendo demitidos.

O pronunciamento acabou ganhando destaque popular e aumentando a notoriedade do parlamentar. Mas a fala que agradou o povo não provocou o mesmo sentimento em alguns membros da base governista na Câmara. Um dia após o destaque, um site de notícias de Quixadá, ligado a aliados do atual prefeito de Quixeramobim, publicou uma matéria acusando o vereador de patrocinar festas que promovem a prostituição neste município.

Não demorou muito e alguns setores da imprensa regional, sem a prévia verificação das informações divulgadas e sem o devido cálculo do impacto que uma matéria desta natureza pode causar sobre a imagem de uma figura pública – que é também, diga-se de passagem, um pai de família – reproduziram o mesmo conto sem sequer ouvir o posicionamento do parlamentar frente às acusações. Somente o portal G1, do grupo Globo, teve este cuidado.

Em um regime democrático, quando a imprensa vende peça de ficção como se fosse realidade a sociedade é que se vê prejudicada. É ficção porque, primeiro, pela forma como se foi noticiado, entende-se que o vereador fazia uso do próprio cargo para financiar um antro de prostituição no município, o que é uma inverdade. Segundo, porque as matérias divulgadas, por não informarem o posicionamento do parlamentar, não respeitaram o direito ao contraditório, tão essencial à liberdade de imprensa.

A polêmica suscita muitas dúvidas: Que interesses há em se publicar uma matéria ligando um parlamentar a promoção de festa voltada a prostituição no município ao mesmo tempo em que se esconde que empresários da região também estariam patrocinando o mesmo evento? Por que o vereador não foi ouvido antes da divulgação das informações? Por que a matéria foi publicada imediatamente após as denúncias feitas pelo edil? Por que a notícia foi disseminada primeiramente por um veículo de imprensa de propriedade de aliados do atual gestor? Por que o suplente de vereador Nem Branco que também patrocinou a mesma festa não foi citado?

Um dia após a divulgação das informações, o Ministério Público (MP) entrou com uma ação na justiça solicitando o cancelamento da festa, mas afirmou não ter constatado a participação do vereador com a produção do evento. Poucas horas após a ação do MP, o juiz Rogaciano Bezerra Leite Neto, titular da 2ª Vara da Comarca de Quixeramobim, determinou a interdição do estabelecimento conhecido como “Portão Preto”, situado na localidade de Cupim. No mesmo dia o vereador gravou um vídeo explicando aos seus eleitores que havia sido abordado pelo produtor da festa, mas que não havia sido informado que esta teria a finalidade de comemorar o funcionamento de uma casa de prostituição.

Em tempos de desordem política e econômica e, até mesmo jornalística, o Ministério Público e a Justiça de Quixeramobim agiram em prol da ordem institucional. O MP procedeu corretamente ao deixar claro que não foi constatado a participação do parlamentar com a produção do evento, e a Justiça tomou a medida correta ao interditar o espaço sabidamente destinado à exploração sexual. Ponto para a sociedade! Mas a imprensa local, ao trocar “alhos por bugalhos”, acabou agindo em nome da desordem.

É muito perigoso quando um site que pretende-se de comunicação se transforma em uma máquina de difamação de figuras públicas. É preciso que os leitores estejam atentos e preparados para distinguir entre o que é verdadeiro e o que é falso, o que é notícia e o que é fofoca, o que é joio e o que é trigo. O debate político se torna ainda mais pobre quando os interesses pessoais se sobrepõem aos interesses da coletividade.

Para o bem de todos, o prostíbulo foi fechado e a festa foi cancelada. Resta saber quando a Secretaria de Saúde comprará os medicamentos ainda em falta e quando a prefeitura dará as explicações necessárias sobre os recentes rearranjos no quadro administrativo.

Editorial do Repórter Ceará

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