Candidato a presidente pelo PT em 2018, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad diz que há dois anos já previa a ascensão da “extrema-direita” no país, mas que apostava na eleição do governador eleito João Doria (PSDB), com um “PSDB bolsonarizado”. Em sua primeira entrevista após a eleição, Haddad defende o PT das críticas de aliados e do ex-candidato Ciro Gomes (PDT) e afirma que o país vive um sistema híbrido, em que o autoritarismo cresce dentro de instituições democráticas.
“Eu imaginava [há dois anos] que o [João] Doria, que é essencialmente o Bolsonaro, fosse ser essa figura [que se elegeria presidente]. Achava que a elite econômica não abriria mão do verniz que sempre fez parte da história do Brasil. As classes dirigentes nunca quiseram parecer ao mundo o que de fato são”, diz Haddad na entrevista à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.
Interesses americanos
Para Haddad, a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) está diretamente relacionada à retirada do ex-presidente Lula da disputa e à prevalência de interesses econômicos dos Estados Unidos na América Latina. “Existe uma onda que tem a ver com a crise [econômica] de 2008, que é a crise do neoliberalismo, provocada pela desregulamentação financeira de um lado e pela descentralização das atividades industriais do Ocidente para o leste asiático”, avalia.
Na avaliação dele, a crise mundial acarretou a desaceleração do crescimento latino-americano e a crise fiscal, abrindo caminho para a direita na região. “Os EUA estavam perdendo plantas indústrias para a China. E a resposta foi [a eleição de Donald] Trump. Isso abriria espaço para a extrema direita no mundo. Mas a extrema direita dos EUA não tem nada a ver com a brasileira. Trump é tão regressivo quanto o Bolsonaro. Mas não é, do ponto de vista econômico, neoliberal. E o chamado Trump dos trópicos [Bolsonaro] é neoliberal”, considera.
Repórter Ceará – Congresso em Foco



