Conforme os dias vão passando, alguns Estados vão avançando no seu processo de reabertura gradual da economia, concentrando esforços na realização de novos testes e aguardando o desenvolvimento de uma vacina ou a descoberta de um medicamento comprovadamente eficaz contra o coronavírus.
E como nós já sabemos, o que acontece no seio da sociedade acaba afetando diretamente a economia e tem grande influência sobre o que acontece também no mundo da política. E mesmo com essa pandemia, a lógica dos fatos não foi completamente alterada, ainda mais se lembrarmos que estamos no meio de um ano eleitoral.
Sim, digo que estamos no meio de um ano eleitoral porque até agora não há qualquer definição sobre o eventual adiamento das eleições. Além disso, a possibilidade de estender o mandato dos prefeitos por mais dois anos tem sido duramente rechaçada por líderes partidários, que veem o pleito deste ano como uma oportunidade para reestruturar suas bases para as eleições de 2022.
Em abril, nós até chegamos a produzir “Um Minuto” sobre a possibilidade de adiamento das eleições municipais e os impactos que o coronavírus poderia causar na política. Mas passados quase três meses desde que discutimos esse assunto, somente agora a Câmara dos Deputados avalia votar, nas próximas semanas, um projeto que adie as eleições municipais.
A ideia do projeto é mudar a data das eleições para novembro ou dezembro, porque, assim, não seria necessário alterar a Constituição por meio de uma emenda parlamentar que estendesse os mandatos dos prefeitos. Discute-se também a possibilidade de ampliar o horário de votação, suspender o uso da biometria e destinar um período exclusivo para que as pessoas que fazem parte do grupo de risco possam votar.
Não me resta dúvidas de que tudo que já foi pensado e que tem sido discutido é importante, mas há outras questões que também precisam ser ponderadas pelos nossos tomadores de decisão e uma delas, que me parece ser crucial, diz respeito à própria forma como a política é feita em anos eleitorais.
Como vamos realizar comícios e passeatas sem provocar aglomeração? Como adiar as eleições sem prejudicar o tempo de transição entre um governo derrotado e outro vitorioso? Como os prefeitos poderão se ocupar da reeleição se a realidade os convoca a lutar na pandemia? Como encontrar eleitores sem se tornar um vetor de transmissão desse vírus?
Todas essas questões são de grande relevância social e política e têm de ser pensadas com cautela e com o auxílio de especialistas para que assim se evite um prejuízo maior ao próprio exercício da democracia. Se, de fato, as eleições forem adiadas – e eu acredito que serão – a realidade se encarregará de nos ensinar a criar uma nova forma de fazer a política em ano eleitoral.
1 Minuto com Sérgio Machado